NICOLA PAMPLONA RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Após 25 anos, a economista Elena Landau deixou o PSDB e já negocia adesão ao Livres (novo nome do PSL), onde vê maior possibilidade de elaborar uma agenda econômica liberal. Sua saída, diz, foi motivada por divergências com a cúpula do partido, tanto em questões econômicas como éticas. Ex-diretora do BNDES e com passagem pelo conselho de administração da Eletrobras, ela viu como “um balde de água fria” a divulgação, pelo Instituto Teôtonio Vilela (ITV), de um programa econômico “envelhecido”. Pergunta – Por que a sra. decidiu se desfiliar do PSDB? Elena Landau – Por uma série de motivos, entre eles a permanência do Aécio à frente do partido. Sem prejulgamentos, porque o Aécio não é nem réu, mas acho que a gente tinha que ter uma postura diferente do resto dos partidos. O PSDB sempre se comprometeu a ter uma imagem diferente. E agora o PSDB, apesar de não ter réu nenhum, começa a ser comparado ao PT, ao PMDB, que têm dirigentes réus, candidatos réus. Acho que o PSDB não aprendeu com o evento mensalão. Teve outras divergências? – Há uns quatro ou cinco meses, o Tasso nos pediu para alinhavar um conjunto de propostas que pudessem dar a ideia de refundação do partido, que lançamos como um manifesto, com discurso mais liberal, revisão de uma série de políticas públicas, da forma de atuação. Apesar disso, veio o documento do Instituto Teotônio Vilela, que foi desenvolvido em um seminário para o qual ninguém foi convidado. Foi um balde de água fria porque é um texto envelhecido, com discussões sobre estado mínimo, estado máximo… Ninguém mais fala isso. É como se quisesse dar uma resposta: “Olha pessoal da esquerda, a gente não é favor do estado mínimo. Olha pessoal da direita, a gente não é a favor do estado máximo”. O documento coincidiu com uma decisão de cúpula para não ter mais disputa na convenção e optar pela conciliação. Não é nem pela conciliação, muito menos pelo nome do governador Geraldo Alckmin, mas achávamos que o partido estava pronto para ir para uma convenção moderna, onde cada um mostraria sua visão. Então, me dá a sensação de que as decisões vão fica na cúpula. A sra. considera se filiar a algum partido? – Eu fui convidada pelo Livres, mas não estou considerando me filiar. Fui convidada para um trabalho mais técnico, mais acadêmico, que é presidir a fundação do Livres, o que dá a possibilidade de montar um programa, debater ideias. O discurso é amplamente liberal e acho que o Brasil precisa entender melhor o que é o liberalismo, porque fala-se muito de liberalismo econômico, mas não tem liberalismo nos direitos civis. Tem várias pessoas que defendem a privatização, mas são contra o casamento homoafetivo. Acho que tem que se discutir ideias, costumes, sem preconceito, e não só liberalismo econômico, porque a coisa fica capenga. Quanto mais gente discutir essa pauta, mais importante para o Brasil e menos o perigo do populismo intervencionista, que está liderando as pesquisas com Lula e Bolsonaro. A ideia é lançar candidato ao Executivo? – Foi muito recente e vou sentar essa semana com a pessoa que toda essa parte da estrutura. O objetivo é trazer mais gente para uma agenda nova. Mas eu acho que o objetivo maior é Congresso. Que não vai para presidente. E entendo que a gente deve se unir em torno de uma candidatura viável de centro. Gosto muito do Geraldo Alckmin e acho que pode compor. E, na sua opinião, quais seriam os principais desafios da agenda econômica? – A primeira coisa é a Previdência. Penso que se a Previdência tivesse vindo junto com a PEC do Teto [que cria limite para o gasto], o governo poderia explicar melhor o que está querendo. Agora, já fez tanta concessão nessa reforma da Previdência que já estamos no mínimo do mínimo. Depois disso, acho que um dos desafios é uma reforma administrativa, para o Estado se concentrar naquilo que é fundamental. Os bancos públicos cresceram de tal maneira que expulsaram boa parte dos privados de determinados segmentos, o BNDES ocupou um espaço indevido. Tudo isso tem que ser reajustado. A privatização da Eletrobras passa no Congresso? – Acho que não tem como voltar atrás. Por melhor que seja a administração da Eletrobras, chega uma hora que não tem como, que o Tesouro vai ter que capitalizar. De onde vem o dinheiro? Tem que chamar capital. Tem uma frente ampla contra a privatização da Chesf, mas onde eles estavam quando a Chesf foi destruída pela Dilma? Não estão preocupadas com a sobrevivência da Chesf, estão preocupadas com a sobrevivência dos cargos políticos. RAIO-X FORMAÇÃO Economia CARREIRA De 1981 a 2004 foi professora do Departamento de Economia da PUCRio; foi diretora do BNDES entre 1993 e 1996; entre 2016 e 2017, participou do conselho de administração da Eletrobras ATUAÇÃO Sócia do escritório Sérgio Bermudes