Alguns hábitos dos consumidores ainda estão muito ligados à influência das práticas de marketing. Haja vista o que ocorreu no último Black Friday de lojas cheias. Ah, se não fosse a propaganda… Todos nós aprendemos a consumir sob a influência das mais variadas mídias. A realidade, no entanto, nos pede para falar em reconstrução de estilos de vida. Seria ideal se a sociedade mudasse, consumindo de forma mais consciente, observando inclusive o descarte correto de produtos usados e embalagens. Precisamos mesmo é consumir (e aplicar) a sustentabilidade.
Temos alguns exemplos de iniciativas de empresas e de grupos focados na sustentabilidade e em seus impactos no consumo. A Adidas, num trabalho conjunto com a ONG ‘Parley for the Oceans’, retirou resíduos plásticos dos oceanos. E não por força da lei, mas porque ganhou com isso. O buzz gerado com esta ideia foi mundial, mostrando como trabalhar com sustentabilidade pode (e deve) agregar valor à sua marca e ao seu produto. A marca gerou um benefício ambiental, envolveu a comunidade e obteve receita com a venda de tênis.
Outro caso é mais antigo, mas emblemática pelo resultado e a mobilização que causou. A iniciativa Let’s do It foi promovida na Estônia, um país de baixa densidade populacional, onde despejar lixo nas florestas era algo normal. Até que o empreendedor Rainer Nõlvak conseguiu engajar empresas, comunidades, veículos de comunicação, artistas, políticos e até mesmo o presidente da república. Uma mobilização gigantesca foi promovida para que em um dia todos juntos limpassem o país. Em paralelo, utilizaram-se de plataformas gratuitas online (como o Google Maps) para que as pessoas pudessem enviar fotos e a localização das áreas mais poluídas, pré-determinando as que demandavam mais esforço, como operação com máquinas e mais mão de obra.
Ao todo, a ação reuniu mais de 50 mil pessoas – quase 4% da população de 1,3 milhão de habitantes– que juntaram 10 mil toneladas de lixo. Para recolher essa quantidade no ritmo normal do país, seriam necessários três anos e 22 milhões de euros em investimentos. Ações como essas provam que a sociedade civil, com um propósito muito bem claro, amparada por atitudes sustentáveis e ferramentas de marketing eficientes, tem mais força do que se imagina.
No Brasil, temos a Política Nacional de Tratamento de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/10), que divide a responsabilidade sobre o lixo entre os consumidores, governo e empresas, e estabelece as responsabilidades de cada parte. Seguindo a lógica mundial, empresas que ainda não atendem à legislação sobre o tema não terão vida longa. Acreditamos que, assim como antigamente qualidade era um diferencial e hoje é requisito básico para a sobrevivência de uma empresa, em poucos anos as pessoas só irão comprar de empresas que se preocupam com o ciclo de vida dos seus produtos, do início ao fim, da coleta da matéria-prima ao destino do produto pós-consumo.
Serão bem-sucedidas aquelas que estiverem de acordo com as leis e diretrizes, o que chamamos de compliance, e que atendam a premissa de fazer o bem para nós hoje, fazer o bem para as gerações futuras e, consequentemente, fazer o bem para o planeta. Afinal, como disse o ex-secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, em 2015: Não existe plano B porque não temos planeta B. Muitos consumidores vão lembrar disso na hora das compras de Natal. E a sua empresa, já se preparou para essa nova realidade?

Norman Neto é presidente do Comitê de Gestão da Sustentabilidade da Amcham- Curitiba e assessor da presidência do ISAE
Rodrigo Titon é Mestre em Governança e Sustentabilidade pelo ISAE e vice-presidente da ABRH – PR