Uma cena emblemática dos filmes de high school americana que eu sempre assistia na sessão da tarde é a do jovem que ao fechar a porta do seu quarto com força, grita, desaforado para a mãe: Me deixe sozinho!.
Quase sempre a câmera entra no quarto e não nos revela o que se passa com a mãe que tenta conversar com o garoto. Quem já ficou do lado de fora sabe que essa é uma das piores sensações do mundo.

Ser pais de adolescentes (ou de pré-adolescentes) é uma montanha-russa de barulhos e silêncios. E o segundo grupo, acredite, é o pior. Deixar sozinho alguém que acordou com um bom humor contagiante e voltou da escola com cara de poucos amigos – choroso, triste – preocupa.

É uma deixa danada de boa para treinar a tolerância ao silêncio. Não o que dura até a semana seguinte nem o que ignora a demanda ou que se aborrece e deixa pra lá, mas o silêncio que espera a hora certa de ser substituído pela escuta.

Li recentemente um artigo no ‘New York Times’ sobre a dificuldade que adolescentes têm de compartilhar frustrações e dilemas com os pais. Lisa Damour, autora do texto, aponta quatro medos que calam os jovens:

Eles se preocupam que os pais tenham uma reação negativa.

Antecipam repercussões desagradáveis

Têm receio de que os pais dividam suas angústias com outros adultos

Acreditam que a conversa não resolverá os problemas que enfrentam.

A partir dessas pistas, vale pensar em como a nossa escuta pode ser mais produtiva e acolhedora. Esperar o momento que o filho está pronto para falar, não bombardeá-lo de perguntas insistentes é um bom começo.

Ficar atento a escolha de palavras, e aguardar o fim da história para só depois dizer o que pensa, pode ajudar muito também. E para pôr essa escuta em prática, será necessário aprender a lidar com o nosso próprio silêncio. Outra lição difícil. Filhos, essas fábricas de desafios…

 

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