No começo o mês, o índice que mede a evolução dos preço da cesta básica de Curitiba apontaram uma deflação, ou seja, uma queda de preços de 1,75% de novembro, ante aos valores de outubro. Já os índices oficias que medem a inflação oficial do governo têm apontado uma desaceleração dos preços. Por conta disso, o governo já aposta em fechar o ano de 2017 com uma inflação inferior a 3%, patamar abaixo da meta fiscal estipulada pelo Banco Central para o período. Em resumo: no mercado os preços estão caindo ou oscilando muito próximos da estabilidade. Mas, como o consumidor sente estes índices?

O que ocorre é que os índices são feitos com base em uma média ponderada dos preços coletados nas regiões pesquisadas e que compõem aquela cesta de pesquisa, explica o economista Sandro Silva, supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócioeconomicos (Dieese), escritório Paraná. Por isso, é tão difícil para o trabalhador sentir essa queda de preços quando vai ao supermercado, por exemplo, afirma.

O economista revela ainda que, além disso, nesta análise é importante ressaltar que os produtos tem pesos diferentes para determinados públicos, ou seja, o local onde é realizada a coleta dos preços dos produtos. Como exemplo cita o peso do grupo alimentos para uma família que ganha de um a 40 salários mínimos (Índice de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA) e para outra família com renda de um a cinco salários mínimos (Índice Nacional de Preços ao Consumidor – INPC).

Para Curitiba, o grupo alimentos e bebidas tem o peso 20, 8% no IPCA e de 26,7% no INPC), segundo as últimas informações disponibilizadas sobre a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), de 2003. Essa pesquisa é que determina o peso dos preços dos produtos e serviços considerados na hora de elaborar os índices inflacionários. Esse mesmos grupos têm pesos diferentes em outras cidades, que têm a média ponderada inclusa do cálculo geral.

Silva explica ainda que os índices inflacionários servem para apontar o comportamento dos preços nos locais onde são coletados e não o custo de vida, uma vez que os preços se constituem apenas em um dos indicadores que determinam o poder aquisitivo das famílias. Segundo ele, os índices oficiais, como o IPCA, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE), não consideram a evolução salarial, por exemplo, fator importante para determinar o quanto é necessário para um indivíduo sobreviver em determinado local.

Apesar de toda esse distanciamento, os índices inflacionários são importantes para que o governo defina a política econômica, os preços das tarifas públicas, os trabalhadores tenham um parâmetro para os reajustes salariais e tanto o mercado quanto o governo acompanhem a evolução de preços.

Base de pesquisa está defasada
Um outro dado que o economista Sandro Silva cita como responsável pelo distanciamento do cenário retratado pelos índices a do dia a dia é a defasagem da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF). A pesquisa é usada como base dos índices. Por conta disso, as famílias que estão sentindo mais o peso dos preços no orçamento doméstico são aquelas com maior renda. Tal afirmação tem como base a cesta de produtos e serviços consumidos pelas famílias de maior renda que, em grande parte, é formada por despesas como mensalidade escolar e planos de saúde que tiveram reajustes bem acima da inflação nos últimos anos. Já as família com menor renda colocam os filhos nas escolas públicas e recorrem aos postos de saúde do bairro, diz Silva.

Peso dos grupos na inflação de Curitiba

Grupo INPC Peso IPCA
Alimentação e Bebida26,70%20,80%
Habitação16,10%13,70%
Artigos de residência9%5,40%
Vestuário7,60%6%
Transporte16,50%24,50%
Saúde e cuidados pessoais8,40%9,50%
Despesas pessoais8,10%9,50%
Educação, leitura e papelaria2,80%5,80%
Comunicação4,80%3,30%

Grupo   INPC      Peso IPCA

Alimentação e Bebida   26,7%    20,8%

Habitação           16,1%    13,7%

Artigos de residência     9%          5,4%

Vestuário            7,6%      6%

Transporte         16,5%    24,5%

Saúde e cuidados pessoais         8,4%      9,5%

Despesas pessoais         8,1%      9,5%

Educação, leitura e papelaria     2,8%      5,8%

Comunicação    4,8%      3,3%