PAULO SALDAÑA, FÁBIO TAKAHASHI E ESTÊVÃO GAMBA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Três em cada dez escolas ligadas à Secretaria de Educação do governo Geraldo Alckmin (PSDB) não conseguiram superar a média nacional da redes estaduais do país na edição de 2016 do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). A rede escolar do Estado mais rico do país é superada por outros cinco Estados.
O governo federal deixou de apresentar os resultados do exame por escola a partir deste ano. A Folha então acessou os dados divulgados pelo MEC (Ministério da Educação) e tabulou os resultados do Enem 2016.
A reportagem excluiu escolas com menos de dez alunos do 3º ano no exame e/ou com menos de 50% do total desses estudantes na prova, seguindo critério do MEC de anos anteriores.
O critério já revela a dificuldade que a rede paulista tem para estimular seus alunos a fazer o Enem. Das 3.600 escolas de ensino médio do Estado, mais de 60% não tiveram ao menos metade dos alunos no exame. Assim, não tiveram médias calculadas.
O Enem é a porta de entrada de quase todas universidades federais e de algumas estaduais. A USP, por exemplo, escolhe parte de seus alunos pela nota da prova.
A média de cada escola foi calculada a partir da nota dos alunos que fizeram a prova, com as quatro áreas da prova objetiva (linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas, sem contar a redação).
As escolas técnicas, geridas pelo Centro Paula Souza, foram suprimidas –essas unidades contem com vestibulinho de entrada de alunos.
Das 1.399 unidades estaduais com notas, 423 ficam com média abaixo de 488,23 na parte objetiva. Essa é a média das redes estaduais do país.
Levando em conta todas as escolas da rede de SP, independentemente do tamanho da escola, a média da rede foi de 525,7 pontos. A nota de São Paulo é superada pelas redes de Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais.
Em São Paulo, um grupo de 139 escolas, que representa as 10% mais bem posicionadas, acaba puxando a média da rede para cima.
As notas do Enem variam, nesse grupo, de 514,42 a 545,31. A escola Prof. Maria Dolores V. Madureira, em São José dos Campos (94 km da capital), foi a unidade no Estado que obteve o melhor desempenho (545,31), com 83 alunos fazendo a prova.
Entre essas escolas do topo no Estado, 49% são de nível socioeconômico “alto” e outras 41% são “médio alto”. Essa classificação do MEC, adotada nas últimas divulgações do Enem e também pela Folha, contém sete patamares, que vão de “muito alto” e “muito baixo”.
No extremo oposto, as 10% das escolas com pior desempenho, as médias variam entre 443,60 para 478,32. O nível socioeconômico de 39% das escolas estão entre “médio” e “médio alto”.
O retrato de São Paulo, nesse ponto, é mais privilegiado, quando comparado com a média do país. Na rede paulista, 22% das escolas estão no nível socioeconômico “alto”. Por outro lado, somente 10% de todas as unidades estaduais do país têm alunos com esse perfil. Pesquisas evidenciam uma forte correlação entre nível socioeconômico e desempenho escolar.
Para João Cardoso Palma Filho, professor da Unesp e ex-secretário-adjunto de Educação de SP, a falta de recursos para a educação acentua dificuldades que impedem que o ensino médio da rede progrida. Segundo ele, o problema começa com a falta de políticas no fundamental.
“O estudante já chega no ensino médio com defasagem. E se olhar a infraestrutura das escolas, vai ver que é lamentável, ainda falta professor para dar as disciplinas como física e química”, diz.
Palma Filho ainda discorda da política de escolas de tempo integral do Estado, que atinge um número reduzido de alunos.
“O Estado não tem folego financeiro para expandir isso de forma significativa.”
Ana Paula Corti, professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo, também questiona a postura do Estado com relação ao tempo integral. “Há tendência de que aprofunde desigualdades nas outras escolas, criando ilhas de excelência”, afirma.