SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As autoridades de Mianmar mataram pelo menos 6.700 pessoas em sua ação militar contra os rohingyas, etnia muçulmana perseguida no país asiático, iniciada em agosto, segundo relatório que será divulgado nesta quinta-feira (14) pela organização Médicos Sem Fronteiras.
A ofensiva no Estado de Rakhine, no sudoeste birmanês, levou à fuga de cerca de 620 mil pessoas para o vizinho Bangladesh, segundo a ONU, o que equivale a 60% dos rohingyas que viviam na região. As Nações Unidas e os EUA acusam as autoridades de Mianmar de limpeza étnica.
Foi com base no relato desses refugiados que a Médicos Sem Fronteiras fez sua pesquisa em seis acampamentos no distrito bengalês de Cox’s Bazar que têm população estimada de 608.108 pessoas, das quais 83% chegaram a partir de 25 de agosto, quando começou a ação militar.
A partir da amostragem feita com 2.434 famílias, a organização estima que 9.000 pessoas morreram em Rakhine durante a operação militar, incluindo os 6.700 mortos de forma violenta.
Das vítimas diretas dos militares, 69,4% foram baleadas, enquanto as demais foram alvo de outros atos violentos, como queima de pessoas trancadas em casas, sequestros, decapitações e violência sexual.
Um em cada dez mortos pelas forças birmanesas era criança menor de cinco anos. Nesse grupo, 60% morreram baleadas. A organização avalia, porém, que os números estejam subestimados porque não contabilizam os mortos cujas famílias ainda estão em Mianmar.
“O que descobrimos foi assombroso, tanto pelo número de pessoas que relataram que um membro da família morreu devido à violência quanto por causa das maneiras terríveis pelas quais elas disseram que os parentes foram mortos ou gravemente feridos”, disse o diretor médico da Médicos sem Fronteiras, Sidney Wong.
As entrevistas foram realizadas entre 27 de maio e 30 de outubro, mas a maioria das mortes ocorre depois do início da ofensiva das forças birmanesas em Rakhine.
Para a organização, o massacre é uma prova de que os membros da etnia islâmica não devem voltar a Mianmar, como prevê um acordo assinado entre as autoridades birmanesas e de Bangladesh.
“Os rohingyas não devem ser forçados a retornar, e sua segurança e direitos precisam ser garantidos antes que tais planos possam ser seriamente considerados”, avalia a Médicos sem Fronteiras.
O relatório é divulgado um dia depois de a Comitê Internacional da Cruz Vermelha estimar que 180 mil rohingyas permanecem na área mais conflagrada de Rakhine, onde continuam as tensões entre a minoria muçulmana e a maioria budista.
Segundo a entidade, os budistas impedem os rohingyas de reabrir seus estabelecimentos comerciais. Cerca de 150 mil receberam ajuda humanitária da Cruz Vermelha.