FERNANDA PERRIN SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Brasileiros com origem no topo da pirâmide social têm quase 14 vezes mais chance de continuarem nesse estrato do que pessoas nascidas na base ascenderem para essa posição, segundo a pesquisa Síntese dos Indicadores Sociais, divulgada pelo IBGE nesta sexta-feira (15). Assim, embora metade da população consiga melhorar de vida em relação aos seus pais em termos de ocupação, essa mobilidade se concentra entre os estratos mais baixos da classificação do IBGE —filhos de agricultores que ascendem para posições envolvendo trabalho manual, por exemplo, ou filhas de trabalhadores rurais que se tornam empregadas domésticas, de acordo com o instituto. Já a chamada mobilidade de longa distância (quando pessoas com origem nos estratos mais baixos ascendem para o topo) é pequena.

Por outro lado, apenas 16,9% dos brasileiros acabam migrando ao longo da vida para uma posição pior do que a de origem. Um terço permanecem na mesma posição. A pesquisa, com base em dados de 2014, divide o mercado de trabalho em seis estratos —A, B, C, D, E e F&—, segundo o tipo de ocupação e o rendimento médio. No estrato A, por exemplo, então cargos de gerência, dirigentes de empresa, advogados e professores de nível superior, com rendimento médio variando entre R$ 3.737 (professores e advogados) e R$ 4.681 (gerentes e dirigentes). No estrato B, estão técnicos de nível médio (rendimento de R$ 2.457); no C, trabalhadores de serviços administrativos (R$ 1.564); no D, trabalhadores da produção de bens e serviços e de reparação e manutenção (R$ 1.460); no E, trabalhadores dos serviços e vendedores e prestadores de serviços do comércio (R$ 982 e R$ 1.263) e no F, trabalhadores agrícolas (R$ 628). Entre quem ascendeu para um estrato melhor, a grande maioria —49,1%— foi para os estratos D ou E. Como esse avanço é pequeno e concentrado na base da pirâmide social, o IBGE o classifica como “mobilidade de curta distância”.

“A comparação entre a estrutura ocupacional de filhos com a dos seus pais evidencia uma redução considerável dos estratos ligados à ocupação agrícola (Estrato F) e um aumento dos estratos ocupacionais formados por trabalhadores manuais e não manuais urbanos de baixa qualificação (Estratos E e D)”, diz o IBGE no estudo. Apenas 21,2% dos filhos de pais da base da pirâmide ascenderam para o estrato A. Já no estrato A, a imobilidade social (ou seja, o percentual de filhos que se mantém no mesmo estrato do pai) é alta, de 54,2%, e as chances de continuarem nessa posição são 13,7 vezes maiores do que de um indivíduo proveniente do D, E ou F migrar ao estratoA.

COR E GÊNERO

O estudo do IBGE também observou que a mobilidade social é menor entre pretos ou pardos do que entre brancos —65,1% vs. 68,8%, tanto ascendente quanto descendente. Na análise de longa distância, um indivíduo branco tem o dobro das chances de conseguir migrar dos estratos D, E ou F para o A do que um preto ou pardo. Os resultados apontam que para a população preta ou parda, é mais difícil ascender ou mesmo permanecer no mesmo estrato do que para a população branca. “Diversos estudos que analisaram as chances relativas de mobilidade entre brancos e não brancos confirmam a existência de barreiras raciais à mobilidade intergeracional no Brasil”, afirma o instituto. Na análise por gênero, o IBGE identificou que há maior mobilidade social entre mulheres do que entre homens, tanto para melhor quanto para pior. Um terço das mulheres que ascenderam na base da pirâmide, por exemplo, migraram para o estrato E —que engloba trabalhadoras domésticas e vendedores—, enquanto um terço dos homens nesse grupo migraram para o D —formado por pedreiros e motoristas. Por outro lado, as mulheres têm mais facilidade para ascender da base da pirâmide para o topo do que os homens: 15,2% vs. 10,2%. Uma das explicações possíveis para esse resultado, segundo o IBGE, é o maior nível de escolaridade das mulheres, enquanto há maior retenção de homens em ocupações rurais.

EDUCAÇÃO

A mobilidade educacional —analisada pela comparação entre o nível de instrução dos filhos em relação ao de seu pai— é maior do que a ocupacional: 68,9% melhoraram de escolaridade, enquanto apenas 5% pioraram. Segundo o IBGE, os dados são resultado da intensa expansão educacional no Brasil nos últimos anos. A proporção de pessoas com nível “médio completo e superior incompleto” foi a que mais cresceu em comparação com a geração de seus pais, passando de 10% para 34,2%. No nível superior completo, o percentual foi de 5,3% para 18%. O instituto avalia que as mudanças na estrutura educacional tendem a ser mais rápidas do que na educacional, o que pode criar um problema uma vez que, apesar da população ter um nível de instrução cada vez mais alto, isso não vai se traduzir em melhora em sua condição no mercado de trabalho. A pesquisa também observou que quanto menor o nível educacional do pai, menores as chances do filho conseguir alcançar um nível de instrução alto. Apenas 4,6% dos filhos de pai sem instrução conseguiu concluir o ensino superior. Já entre filhos de pai com ensino superior, esse percentual sobe para 69,6%. O efeito do aumento do nível de instrução dos pais sobre os filhos também varia dependendo da cor ou raça. Entre brancos, o percentual de filhos de pai com ensino médio completo ou superior incompleto que concluiu o ensino superior é de 49,5%, enquanto entre pretos ou pardos esse número cai quase pela metade, para 28,4%. “Esses resultados vão ao encontro de estudos anteriores que concluíram que a desigualdade de oportunidades educacionais no Brasil é marcada pela estratificação racial e que essa desigualdade parece ser ainda mais acentuada nos níveis mais elevados do sistema educacional”, diz o IBGE. Na comparação entre gênero, a pesquisa confirma a tendência já identificada de maior mobilidade educacional entre mulheres do que entre homens.