SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A direita e a extrema-direita se uniram e tornarão Áustria o único país da Europa ocidental com ultranacionalistas no governo.
Nesta sexta (15), o ÖVP (Partido Popular), do líder conservador Sebastian Kurz, fechou aliança com a sigla populista FPÖ (Partido da Liberdade Austríaco), de extrema-direita.
O entendimento se deu após as eleições de outubro, quando o ÖVP saiu vencedor, com um discurso de aversão aos imigrantes que o aproximava do FPÖ, liderado por Heinz-Christian Strache -que ficou terceiro no pleito, atrás dos social-democratas.
Com o acordo, o ÖVP passa a ter maioria dos votos no parlamento e consolida a Áustria como o único país da Europa Ocidental com um partido de extrema-direita no governo.
A coalizão dos dois partidos, que caracteriza a volta da extrema-direita ao governo em mais de dez anos -fez parte de 2000 a 2005-, foi levada pessoalmente a conhecimento do presidente Alexander Van der Bellen neste sábado (16).
Como novo chanceler, Kurz, que será tornará o mais jovem líder da Europa -tem 31 anos-, e Strache deixaram claro que um dos principais pontos que os uniram é evitar maior relação com a União Europeia nas questões sociais. O líder conservador do ÖVP afirmou que se concentrará no corte de impostos e na questão da segurança, incluindo a luta contra a imigração ilegal.
Apesar de o FPÖ insistir em se distanciar de posições vinculadas ao nazismo, ainda existe desconfiança. Seu líder, Heinz-Christian Strache, por exemplo, já disse publicamente que o antissemitismo é um crime e já visitou um memorial às vítimas do Holocausto em Israel. Mas, por outro lado, foi detido em sua juventude por participar de um protesto de um grupo neonazista ilegal.
O FPÖ -assim como a alemã AfD ou a francesa Frente Nacional – baseia a sua plataforma na aversão aos estrangeiros e ao islamismo.
Suas propostas incluem impedir estrangeiros de receber benefícios sociais e levar a Áustria para o Visegrad, que inclui Hungria, Polônia, República Tcheca e Eslováquia -países em atrito com a União Europeia (UE) devido à política migratória.
Fundada após a Segunda Guerra Mundial por Anton Reinthaller, ex-membro do grupo paramilitar nazista SS, a sigla quase chegou à Presidência em 2016, mas foi derrotada pelo verde Alexander Van der Bellen em uma disputa acirrada.
Quando o FPÖ entrou pela primeira vez no governo, com Jörg Haider (morto em 2008), países da UE impuseram sanções contra Viena, motivadas pelo fato de Haider ter elogiado as políticas de emprego de Hitler. Com a coalizão de agora, o partido está cotado para assumir no ministeriado as pastas de estrangeiros, polícia interna e defesa.
O presidente Van der Bellen, que foi eleito em 2016 e à época representou um alívio às preocupações do bloco europeu, disse acreditar que, devido às negociações realizadas desde a eleição, a Áustria seguirá na União Europeia.