SYLVIA COLOMBO BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – O debate sobre o projeto de reforma da Previdência na Argentina, uma das que integram o pacote de ajustes da economia do governo Mauricio Macri, foi reiniciado nesta segunda-feira (18), após ter sido interrompido na semana passada, por conta de cenas de violência do lado de fora e bate-boca acalorado entre parlamentares do lado de dentro do Congresso. O clima para o início desta nova discussão não foi menos tenso. Desde o fim de semana, os principais sindicatos declararam uma greve de 24 horas, que começou ao meio-dia desta segunda, afetando o transporte público, o comércio e voos nacionais e internacionais. Os sindicatos estudam se continuam a greve por outras 24 horas, dependendo do que for resolvido hoje pelos parlamentares. Pouco antes do início da sessão, marcada para as 14h, agrupações de militantes peronistas, estudantis e sindicatos começaram a se aproximar do edifício do Congresso, que desde a manhã já estava todo cercado por placas de metal. Além da polícia, havia presença forte da Gendarmeria (polícia federal e de fronteiras). Os embates começaram por volta do meio-dia. Enquanto os manifestantes atiravam pedras e garrafas, as forças de segurança respondiam com balas de borracha. Alguns dos que protestavam estavam encapuzados. Segundo a polícia, dez oficiais saíram feridos. Apesar de as cenas de violência terem sido fortes, no conjunto o impacto foi menor do que na semana passada. Uma das razões foi o fato de uma juíza da capital ter acolhido o pedido de um deputado kirchnerista de que os oficiais fossem impedidos de atuar na repressão com armas de fogo. REFORMA DE PENSÕES Enquanto isso, do lado de dentro, os deputados da aliança governista Cambiemos alcançaram o quórum para instalar a discussão, junto a partidos aliados. Só depois disso, entraram no recinto os esquerdistas e os kirchneristas, que tentavam, com sua ausência, inviabilizar a sessão. Ao ver que não foi possível, se integraram a ela, mas afirmam que votarão contra a nova lei. A reforma que o governo pretende é a do sistema como se calcula o reajuste de aposentadorias, pensões e o valor da “Assignação Universal Por Filho”, uma espécie de “Bolsa Família” local, criada durante o kirchnerismo. No total, 17 milhões de argentinos recebem atualmente esse benefício e seriam afetados pelo novo cálculo. Hoje, ele é feito por meio de um conjunto de índices, de modo semestral. A proposta do governo é que seja baseado apenas na inflação, e que seja trimestral. Isso fará com que os ganhos desses beneficiados diminuam. O governo, porém, defende que a medida de redução do gasto social é necessária para que o país volte a crescer. Enquanto a agitação nas ruas começava a se dissipar no fim da tarde, dentro do Congresso o debate se alongava e era esperado que entrasse pela madrugada. O objetivo do governo é obter a “meia-sanção”, ou seja, a aprovação na Câmara, para que o projeto seja levado ao Senado, onde o kirchnerismo é maioria. A aliança Cambiemos busca capitalizar o sucesso que teve nas urnas em 22 de outubro e aprovar as reformas o mais rápido possível.