Foram 14 anos de espera. Nesse período, o empresário e percussionista Gustavo Carvalho, de 37 anos, chegou a se reunir com a maior empresa de percussão do país na busca por investidores, mas sem sucesso. Foi só no final do ano passado, após apostar numa campanha de financiamento coletivo por meio do site Benfeitoria, que conseguiu tirar do papel o X-Pandeiro, um dispositivo inovador que permite aos músicos silenciar as platinelas simultaneamente e ficar só com o som da pele do instrumento.

Criado em 2004 e patenteado em 2005, o dispositivo será lançado em março deste ano ao público, cerca de três meses após o encerramento da bem sucedida campanha de crowdfunding, modalidade que cresce 30% ao ano no País. A meta era arrecadar R$ 16,6 mil, mas a ideia do produto, feito de uma liga plástica bem leve, atraiu tanta atenção que acabou conseguindo captar mais de R$ 18 mil em contribuições.

A empreitada bem sucedida é apenas um dentre tantos exemplos de ideias que se concretizaram graças ao financiamento coletivo, modalidade que, a despeito da crise econômica. Apenas em 2016 os sites Benfeitoria, Catarse, Kickante e Vakinha, os maiores do setor, arrecadaram mais de R$ 60 milhões.

De tanto que essa modalidade de negócio está crescendo, em julho do ano passado a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) decidiu publicar uma nova regra sobre a oferta pública de distribuição de valores mobiliários de emissão de sociedades empresárias de pequeno porte, permitindo a captação de até R$ 5 milhões.

No Paraná, a primeira construtora a apostar na modalidade é a TecVerde. Em parceria com a Urbe.me e a Formanova, também de Curitiba, abriram financiamento coletivo para o Residencial Terra Brasilis, voltado para o Programa Minha Casa Minha Vida e situado na cidade Marília (SP). Os investimentos podem iniciar em R$ 1 mil, com rentabilidades entre 110% do CDI e 20% ao ano.

Com o encerramento da campanha acontecendo amanhã, a empresa, que pretende captar R$ 1,9 milhão, já havia conseguido arrecadar 73% do valor total. Ficamos surpresos com o quão dispostas as pessoas estão em participar. Até 10 anos atrás a maioria das pessoas tinha medo de comprar coisas pela internet e agora já investem R$ 100 mil em projetos online. A receptividade foi enorme e com os juros mais baixos, é difícil um investimento que dê um retorno como esse, aponta Caio Bonatto, CEO da TecVerde.


Campanha ajuda a salvar tradicional bar da Capital

Há dois anos e meio, o Espaço Cultural 92 Graus, um dos mais tradicionais de Curitiba, com 24 anos de estrada, esteve ameaçado de fechar as portas. É que o imóvel em que o estabelecimento está localizado, na Avenida Manoel Ribas, 108, é alugado. E a família proprietária havia decidido vender o imóvel, avaliado em R$ 800 mil.

Para não fechar as portas, o músico Geraldo Jair Ferreira Junior, sócio-fundador do estabelecimento, decidiu criar uma campanha de financiamento coletivo por meio do site Kickante. A meta era arrecadar R$ 523 mil para a compra do imóvel, mas a captação alcançou apenas 4% disso, com R$ 25.744 por meio de 210 doações. Ainda assim, a iniciativa acabou sendo essencial para preservar a 92 Graus.

Quando fizemos a campanha estavamos em situação de risco e precisavamos chamar a atenção. No final, arrecadamos 4% do valor que queríamos, mas foi uma grana que ajudou muito., relata JR Ferreira. A campanha foi um sucesso. Não fosse ela, não teríamos sobrevivido esses dois anos a mais, comemora.


Muito além do dinheiro, ação serve para verificar a receptividade

As vantagens do crowdfunding vai muito além de questões envolvendo o capital, como explica Gustavo Carvalho, criador do X-Pandeiro. Como não era grande o capital que eu precisava, poderia até ter feito um empréstimo bancário para lançar o acessório, mas três motivos me levaram a optar pelo financiamento coletivo. O principal foi o impulso de marketing que teríamos com a iniciativa. O segundo foi levantar o capital mesmo e, por último, verificar a receptividade do público, explica o músico e empresário.

No final das contas o resultado foi positivo. Foram 43 colaboradores, que irão receber o dispositivo nas próximas semanas. O X-Pandeiro já irá para sete estados, sendo que 90% das pessoas que contribuíram são músicos experientes. Então, a partir do momento que começarem a tocar, aí vai divulgar ainda mais o dispositivo, diz Gustavo.