BRUNA NARCIZO E GUSTAVO FIORATTI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O secretário Municipal de Cultura, André Sturm, diz ter sido chantageado para demitir duas funcionárias da secretaria -a chefe de gabinete e a secretária-adjunta- para evitar que o áudio gravado pela assessora Lara Pinheiro, publicado na internet nesta terça (16), fosse divulgado.
Na conversa, gravada sem o conhecimento do secretário, em novembro, Pinheiro e Sturm trocam ofensas e ele diz que ela será exonerada.
Ela pergunta se será demitida porque “não quis dar” para ele, numa viagem ao Canadá, que Sturm hoje afirma ter ocorrido a trabalho. No áudio, ele responde “se eu quisesse te comer, eu teria tomado iniciativas anteriores, não teria te levado ao Canadá”. Pinheiro ainda não deixou o cargo.
Nesta terça (16), o secretário mostrou à reportagem uma carta que afirma ter recebido na sexta-feira (12). O documento elenca uma série de denúncias em relação à secretária-adjunta da pasta, Marilia Alves Barbour, e à chefe de gabinete, Juliana Velho.
Em seguida, a carta pede a exoneração das duas funcionárias. E, por fim, cita o áudio gravado por Lara, afirmando: “Não gostaríamos de expor tal fato”.
Além das acusações contra as servidoras da secretaria, o áudio foi enviado para a Câmara Municipal. O advogado de Pinheiro, Augusto de Arruda Botelho, diz que sua cliente não vai se manifestar sobre a gravação.
Até a conclusão desta edição, não havia queixa formal contra Sturm.
Ao saber das críticas que Sturm teceu a ela nesta entrevista, Pinheiro se defendeu: “Trabalho há mais de 30 anos na área artística. Sempre pautei meu trabalho com a máxima dedicação, em especial à dança. Não posso, portanto, admitir qualquer alegação de incompetência ou negligência na condução das minhas atribuições”.

PERGUNTA – O senhor assediou Lara Pinheiro?
ANDRÉ STURM – De jeito nenhum. A Lara trabalhou comigo desde o dia 1º de janeiro. Quando a minha assessora saiu, por motivos pessoais, em agosto, eu a promovi como a minha assessora principal.
Ela é da cultura e era uma pessoa em que eu tinha confiança. Depois de um tempo, algumas coisas que eu pedia passaram a não acontecer. Abrimos a filial da Escola de Dança em Santo Amaro. Precisava de um dinheiro para isso. Fomos a uma vereadora e conseguimos uma emenda de R$ 150 mil, que chegou aqui em outubro. Em novembro a Lara ainda não tinha feito nada a respeito.
Teve um evento no Theatro Municipal que deu a maior confusão no cerimonial.
Na segunda seguinte, chamei outras duas assessoras e tirei algumas atribuições da Lara. Na outra semana, ela me mandou uma mensagem e eu disse que precisava conversar com ela. Foi o dia da gravação.
Ela entrou na minha sala alterada. Começa perguntando se seria demitida. E eu digo que não posso ter uma assessora em que não tenha confiança. Ela fica o tempo inteiro tentando colocar palavras na minha boca.

P. – Reconhece que se exaltou durante a conversa?
AS – Sim, claro. Posso até ter sido grosseiro. Agora, ela estava muito agressiva. Fiquei incomodado que uma pessoa que tinha minha total confiança, que compartilhava comigo questões estratégicas pudesse estar com aquela atitude. Ela diz: ‘Você vai me mandar embora porque eu não quis dar para você’. Eu digo: ‘Lara, se eu quisesse te comer, teria te comido’. Não preciso viajar com uma mulher de 50 anos para seduzi-la. Não quero ser machista. Quero dizer que, se eu quisesse tentar seduzi-la, eu teria tentado seduzir.

P. – Ela diz que só havia um quarto reservado em Montreal. Como isso aconteceu?
AS – Quando chegamos lá, só tinha um quarto reservado. Eram 9h da noite, me disseram que o hotel estava lotado, que não tinha o que fazer. Ficamos nesse hotel e eu fiquei tentando arranjar outro lugar. Assim que consegui, mudamos de hotel. Ficamos alguns dias, é verdade, no mesmo quarto. Agora, duas camas, duas pessoas adultas.

P. – Só um quarto foi reservado?
AS – Sou uma pessoa que não sabe usar a internet. Eu pedi para uma agência de viagem reservar o hotel e os preços eram escabrosos. Um amigo me disse para entrar no site ‘Booking’. Resolvi entrar, vi uns preços incríveis e reservei. Devo ter errado a reserva, porque o quarto que eu reservei tinha duas camas.

P. – Quem divulgou o áudio?
AS – É importante dizer que esse áudio não está isolado. Na sexta-feira (12), foi deixado na mesa da copa no começo da noite um envelope. Minha secretária abriu. Tinha esse bilhetinho: ‘favor ser lido somente pelo secretário Sturm’.
Dentro tinham sete acusações contra minha chefe de gabinete e a minha secretária-adjunta. Acusações muito pontuais. No final, diz: “Rogamos a vossa excelência que exonere as referidas servidoras. Ato que beneficiará vossa gestão. Recebemos um áudio comprovando o assédio sexual cometido por vossa excelência junto à servidora Lara Pinheiro. Não gostaríamos de expor tal fato”. Ou seja, é uma chantagem.

P. – Qual foi a atividade dos senhores no Canadá?
AS – Um dos focos do nosso trabalho é o Municipal. Recebi um convite para ir ao Canadá, para visitar equipamentos, fazer parceria, eles não pagavam a passagem, mas era um convite para uma agenda.
O Canadá tem uma política de parcerias internacionais. No caso do cinema, que é minha área, eles são o país com o maior número de coprodução. Organizei minha agenda, pedi licença e viajei. E paguei minha passagem.

P. – Por que decidiu pagar a viagem do próprio bolso?
AS – Embora fosse uma viagem de trabalho, era uma possibilidade de dar uma refrescada na minha cabeça. Tendo em vista que o prefeito bate na tecla da economia, falei, prefiro pedir licença, usar minhas milhas em passagem, pagar o hotel e não correr o risco de alguém me ver no Canadá, tirar uma foto e botar no Facebook e dizer que estou indo ao exterior às custas da cidade.

P. – Pagou a passagem dela?
AS – Usei as minhas milhas para as passagens dela também. Eu não podia fazer ela viajar a trabalho oficialmente e pagar sozinha.