Elas vieram pra ficar, quanto a isso não há mais dúvidas. São poucas as pessoas abaixo dos 60 anos que optam por não estar nas redes sociais – e as que não estão muitas vezes são vistas com espanto pelos engajados. Mas é curiosa a forma como as pessoas vêm se expondo em seus perfis virtuais. Transformam a interação em competição, propagando a intolerância e atiçando o fogo da fogueira das vaidades, cada vez mais incandescente.

A parte da vaidade chega a ser engraçada. Lembro de uma postagem pouco antes do Natal em que a pessoa dizia algo como: acabo de fazer uma coisa muito gratificante, uma doação anônima a uma entidade filantrópica. Ora, onde estava o anonimato? Outro dia um rapaz declarando que doou cadeira de rodas a uma pessoa pobre… E olha que nem falei das fotos em academias, na praia, no clube, exibindo os corpos em um nada disfarçado, mas tácito pedido desesperado de olhem pra mim, elogiem! Gente, estamos muito carentes e isso é assustador! Elogio é bom e todo mundo gosta, mas parece que estamos exagerando, mendigando por afagos no ego.

E quando mudamos de assunto, é pra incendiar ainda mais a intolerância e o ódio. A política tem sido uma seara rica em semear a discórdia. Quem pensa diferente é considerado burro, mal informado ou mau caráter, pra dizer o mínimo. E aí não se economizam xingamentos, palavras que talvez a pessoa não tivesse coragem para falar cara a cara, mas que são impulsionadas pela coragem que o escudo do celular ou computador. Aliás, este é outro fenômeno que merece uma boa análise: como ficamos corajosos pra falar tudo quando estamos digitando!

É gente desfazendo amizades, eliminando (sim, usam esta palavra quando bloqueiam alguém nas redes sociais) colegas, fechando-se em círculos apenas com quem concorda, quem pensa igual, quem só vai elogiar – e aí a gente percebe que o palco da vaidade está juntinho ao ringue da intolerância.

Caramba, a gente briga por política e esquece que os representantes de todos os lados fazem suas alianças escusas, justificadas pela tal coalizão, sem nos perguntar se concordamos ou não. Nos matamos aqui enquanto eles saem pra jantar juntos lá. Pense nisso…

Adriane Werner. Jornalista, especialista em Planejamento e Qualidade em Comunicação e Mestre em Administração. Ministra treinamentos em comunicação com temas ligados a Oratória, Media Training (Relacionamento com a Imprensa) e Etiqueta Corporativa.