O julgamento do ex-presidente Lula em segunda instância transcorreu sem surpresas, apenas evidenciando um arranjo prévio dos três magistrados na dosimetria da pena. Os questionamentos e dúvidas desse processo continuarão, uma vez que haver provas nos autos não significa, necessariamente, que atos foram provados. A repercussão do resultado não pode ser avaliada exclusivamente pela divulgação na mídia e nas redes sociais, uma vez que a percepção da totalidade da população não é coberta por esses veículos.
Por outro lado, o Datafolha divulgou, no último dia de janeiro, resultado de pesquisa de intenção de voto para a Presidência do país, simulando cenários com e sem a participação de Lula. A pesquisa foi realizada após o julgamento no TRF4, presumindo-se, assim, o conhecimento dos entrevistados sobre a condenação até aqui do petista, o que o tornaria inelegível, dentro do entendimento legal vigente.
Análises dos resultados – com a folgada liderança de Lula em qualquer cenário – foram feitas pelo próprio jornal Folha de S. Paulo, mas há detalhes que foram deixados de fora. O índice de rejeição de Lula é, individualmente, de 40%. Se somados aos 4% que afirmaram que rejeitam todos os candidatos e aos 2% que não sabem, e comparando-se com o máximo de 49% de intenções de voto que Lula atinge no segundo turno se competisse indistintamente com Alckmin ou Bolsonaro, conclui-se que a quase totalidade (91%) dos eleitores que não rejeitam Lula vota nele.
Tende-se a avaliar para qual candidato vão os votos de Lula, caso seja impedido de competir. Como os números dos demais competidores são baixos, a avaliação direta carrega uma margem de erro grande, mas foi omitido que metade dos eleitores de Lula simplesmente anularia seu voto ou deixaria a cédula em branco. Quer dizer, o candidato preferencial ainda é Lula, independente do curso da ação penal e não está clara qualquer transferência de votos, mesmo porque apenas Jaques Wagner foi colocado como alternativa petista nas simulações. A pesquisa perguntou se o eleitor votaria em candidato indicado por Lula, o que mostrou que mais da metade não seguiria a indicação, mas não separou o resultado entre aqueles que originariamente votariam em Lula, para saber a real dimensão de uma intenção de transferência de votos.
De qualquer forma, pesquisa eleitoral é retrato do momento. Em ano com a judicialização da política, politização da justiça e copa do mundo de futebol as incertezas são muitas para se fazer previsões, podendo condenar ao ridículo quem as fizer.

Adilson Roberto Gonçalves é doutor em química pela Unicamp, livre-docente pela USP e pesquisador no IPBEN – Unesp em Rio Claro