GABRIEL CARNEIRO
SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Zeca, enfim, rompeu o silêncio. Em entrevista coletiva realizada nesta sexta-feira (9), em São Paulo, o lateral narrou os problemas que vem tendo com o Santos desde o fim de 2017.
Em meio as lembranças, o jogador chorou e disse que sua família vem sofrendo ameaças da torcida. Ele não atua há quatro meses, ou 110 dias.
“Não gosto nem de falar. Minha mãe tem um problema psicológico. Eu sempre disse que entrei no futebol para ajudar minha família. Não entrei para trazer problema para a minha família, mas eu estava trazendo. Minha mãe tem esse problema, toma remédio controlado, mas ela estava sem tomar remédio há três dias”, disse o jogador, interrompendo o discurso várias vezes para chorar.
“Era ameaça de morte, e ela queria ir embora. Ela vendo o filho, ela sendo ameaçada. No outro dia, cheguei no apartamento e fiquei muito chateado. Ela faz tratamentos, minha família sabe disso. Decidi conversar com meus empresários. Quem tomou a atitude [de deixar o Santos] fui eu, porque chegou um momento em que não dava mais certo”, completou.
Zeca está no elenco profissional do Santos desde 2014, ano em que foi campeão da Copa São Paulo de Juniores e logo em seguida promovido pelo técnico Oswaldo de Oliveira. Ele estreou em março daquele ano, mas só conseguiu virar titular na temporada seguinte, após a chegada de Dorival Júnior.
Após barrar a saída do jogador para um clube dos Estados Unidos, Dorival deu a esperada sequência de jogos ao lateral, que se mostrou um dos nomes mais importantes do time em 2015 e 2016. Na temporada passada, após voltar de lesão, o jogador não mostrou o mesmo futebol e entrou em divergência com torcedores nos jogos e nas redes sociais.
Em outubro do ano passado, Zeca foi alvo de ameaças e tentativas de agressão durante o desembarque do Santos após empate com o Sport pela 29ª rodada do Brasileiro. Um dos muros da Vila Belmiro foi pichado com as inscrições “Zeca fdp, c…, nois vamos se tromba (sic)”. O jogador já havia cobrado torcedores por apoio no estádio e feito uma postagem polêmica no Instagram com emojis indicando revolta.
“Voltando do jogo, chegando no aeroporto, tinha a possibilidade de o presidente botar o ônibus no aeroporto para a gente não passar pela torcida. Tinha a situação do Lucas Lima no último mês de contrato. Ele decidiu que nos passássemos pelo meio da torcida. Foi aí que começou tudo”, disse Zeca. “Nós passamos de cinco em cinco com os seguranças. Fui agredido e cheguei em casa muito chateado. Depois fui para a casa da minha mãe, chorando”, completou.
Zeca seria barrado, mas o elenco decidiu interceder a seu favor e ele seguiu atuando normalmente. O ápice do conflito foi uma partida contra o Atlético-GO, quando o lateral decidiu romper um pacto de silêncio para dar uma entrevista em que disse amar o Santos e prometeu “lutar por ele”. Ao mesmo tempo, a torcida entoava: “Zeca, vá se f…, o nosso Santos não precisa de você”.
Quatro dias depois, se tornou público que Zeca estava processando o Santos na Justiça do Trabalho. Desde então ele teve negociações com o Flamengo e o Girona, da Espanha, mas não acertou com nenhum dos clubes justamente em razão do imbróglio judicial.
Pelo Santos, o ex-camisa 3 soma 141 partidas e quatro gols, além de convocações para a seleção brasileira olímpica, pela qual foi medalhista de ouro em 2016. Seu contrato era válido até 2020.
Zeca diz que a questão financeira não foi o estopim da crise na relação com o clube. “O Santos me deve dinheiro de luvas há muito tempo. Entrando nisso agora, perante leis, é o dinheiro. Mas o coração da pessoa fala mais do que dinheiro. Se é o que todo mundo quer ouvir, acho que tenho a dignidade de trabalhar com segurança”, disse o lateral.
Ele ainda reforçou que seu principal problema começou diante da postura do clube frente às pressões da torcida. “Coisas atrasadas, têm. Outros jogadores entraram na Justiça e ganharam. Eu não entrei na Justiça, continuei jogando”, acrescentou.
Ainda mediante o imbróglio, o presidente do Santos, José Carlos Peres, afirmou que havia uma decisão liminar da Justiça, segundo a qual qualquer time que assinasse contrato com Zeca teria que dar uma garantia financeira de assumir os pagamentos. A empresa responsável pela carreira do jogador negou a existência da liminar e prometeu divulgar uma nota a respeito.