SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente sul-africano, Jacob Zuma, anunciou sua renúncia nesta quarta-feira (14), em meio a acusações de corrupção que levaram o seu partido a deixar de apoiá-lo.
No poder desde 2009, Zuma renunciou em um discurso de 30 minutos transmitido pela TV sul-africana na noite desta quarta. Ele afirmou que discorda da maneira como seu partido, o CNA (Congresso Nacional Africano), exigiu sua saída do cargo.
“Cheguei à decisão de renunciar como presidente da República, com efeito imediato”, afirmou Zuma.
“Apesar de discordar da decisão da liderança da minha organização, sempre fui um membro disciplinado do CNA”, disse.
O partido ordenou que Zuma deixasse a presidência na terça-feira. Como o presidente se recusava em fazê-lo, o CNA anunciou que apoiaria moção da oposição no Parlamento, um voto de desconfiança, para forçar sua saída.
“Nenhuma vida deveria ser perdida em meu nome. E o CNA também não deveria ficar dividido em meu nome”, acrescentou Zuma no pronunciamento.
“Devo aceitar que se meu partido e meus compatriotas desejam que eu seja removido, eles devem fazê-lo na maeira prescrita pela Constituição”, disse.
O atual vice, Cyril Ramaphosa, deve assumir a Presidência até o fim do atual mandato, em 2019. Ele pode tomar posse na sexta (16).
Os dois líderes protagonizam uma queda de braço desde dezembro, quando Ramaphosa venceu a disputa para substituir Zuma no comando do CNA, partido que dirige a África do Sul desde o fim do apartheid, em 1994.
“Essa decisão dá ao povo da África do Sul certeza em um momento em que desafios sociais e econômicos ao país requerem uma resposta urgente e resoluta”, afirmou o vice-secretário-geral do CNA, Jessie Duarte.
O pronunciamento marcou uma reviravolta no posicionamento de Zuma. Mais cedo nesta quarta, ele havia dito que não pretendia renunciar porque não via motivos para deixar o cargo. “Eu preciso saber o que eu fiz. Por que a pressa?” havia dito.
DENÚNCIAS
Zuma, 75, enfrenta uma série de acusações de corrupção. Sua ligação com a família Gupta, acusada de subornar autoridades em troca de contratos públicos, também é alvo de escrutínio.
Nesta quarta, a polícia fez uma operação anticorrupção na residência dos Gupta, durante a qual três pessoas foram presas. Tanto a família quanto Zuma negam as acusações.
Em 2016, o Protetor Público, órgão anticorrupção da África do Sul, publicou relatório intitulado “Estado de Captura” em que afirma que os Gupta tentaram influenciar a indicação de ministros e receberam concessões estatais ilegalmente.
A filha de Zuma, Duduzile, foi uma das diretoras da Sahara Computers, dos Gupta. O filho do presidente, Duduzane, também foi diretor em uma empresa do grupo Gupta, mas renunciou após pressão da opinião pública em 2016.
O crescente poder dos Gupta no governo sul-africano foi exposto em março de 2016, quando o então vice-ministro de Finanças Mcebisi Jonas disse que um membro da família ofereceu a ele o posto de ministro no ano anterior.
Outro caso semelhante envolve uma ex-parlamentar do CNA, Vytjie Mentor, que afirma ter recebido uma proposta dos Gupta para assumir o Departamento de Empresas Públicas.
Outras denúncias contra Zuma envolvem uma série de reformas feitas em sua casa e pagas com dinheiro público.
Parte da cúpula do CNA teme que a derrocada da popularidade do agora ex-presidente prejudique o partido nas próximas eleições, abrindo espaço para a oposição, e por isso pressionava para que ele deixasse o cargo.
A sigla, que tem como maior símbolo o ex-presidente Nelson Mandela (1918-2013), comanda o país desde o ocaso do regime de segregação racial, em 1994.
Em 2016, Zuma chegou a enfrentar uma votação de impeachment, mas obteve vitória e permaneceu no cargo.