O que para a maior parte das pessoas é um ato banal, para a vendedora Marizete Januski era um verdadeiro pesadelo. Quando entrava num carro e se sentava no banco do motorista, logo a mão começava a suar, a perna a tremer e o coração acelerava. Situação que só se agravou depois de se envolver em dois acidentes de trânsito, fazendo-a praticamente aposentar o carro, que por muito tempo ficou parado na garagem.

Você pode até não conhecer, mas tal problema tem nome e é mais comum do que muitos podem imaginar. É a amaxofobia (ou simplesmente medo de dirigir), que afeta 6% da população brasileira habilitada, segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Paraná, que conta com 5,5 milhões de motoristas habilitados, seriam cerca de 330 mil pessoas que não dirigem por medo.

De acordo com a psicóloga Salete Coelho Martins, fundadora da clínica Psicotran, especializada em tratamento para a fobia de dirigir, embora a fobia seja relativamente comum, ainda são poucos os que buscam tratamento. Percebemos que o problema tem se tornado cada vez mais comum, mas a vergonha ainda impera sobre o assunto, comenta a especialista em psicologia do trânsito.

Uma evidência disso é que os pacientes, em sua esmagadora maioria (algo em torno de 90%), são mulheres. Isso ocorre por dois fatores. Um é que as fobias em geral acometem mais mulheres do que homens. O outro é porque o homem não mostra essa fobia por conta da chacota, do preconceito. Muitos preferem dizer que gostam de andar a pé, que usam a bicicleta para ajudar o planeta e coisas assim, aponta.

Prejuízo
Ficar com um carro parado na garagem, contudo, é sinônimo de prejuízo. Somente com o IPVA, o proprietário de um automóvel avaliado em R$ 40 mil vai desembolsar cerca de R$ 1,6 mil ao ano. O seguro anual fica em torno de R$ 2 mil (5% do valor do automóvel) e ainda há os custos com manuteção (ai incluidos o combustível e as trocas corriqueiras, como óleo), que ficam em torno de R$ 15,7 mil ao ano ou R$ 1.310 por mês. Ainda tem o Seguro Obrigatório, o Dpvat e o licenciamento anual.

A boa notícia é que a maioria dos pacientes responde positivamente ao tratamento. 99,9% dos pacientes reagem bem ao tratamento. Os 0,1% que não conseguem é porque desistem, diz a psicóloga.

Após se tratar, vendedora dobra faturamento
A história de Marizete Januski, a vendedora que ilustra o início desta reportagem, teve um final feliz. Após seis anos com a carteira de motorista — que permaneceu inutilizada a maior parte desse tempo —, no segundo semestre do ano passado ela resolveu buscar ajuda profissional. Foram dois meses de tratamento e desde o início de dezembro ela já dirige com frequência a trabalho — ela lidera uma equipe de vendedores de produtos de comésticos.

O carro parado era prejuízo. IPVA, manutenção. Com ele, ganhei mais tempo e dobrei meu faturamento, já que consigo atender mais gente. Antes me deslocava usando ônibus ou tinha de esperar uma folga do meu marido para ele me dar carona, conta Marizete, apontando ainda que sua vida mudou completamente desde que começou a dirigir. Mudou tudo, comemora.

O tratamento ter sido rápido, contudo, não significa que tenha sido fácil. Marizete conta que chegou a pensar em desistir da terapia, tamanho era o medo de dirigir. Foi aos poucos que foi se acostumando. Primeiro movimentei o carro na garagem, comecei a conhecê-lo melhor, em seguida fui dar uma volta na quadra. Logo comecei a levar minha filha para escola, que fica perto da casa.