SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Demitido nesta terça-feira (20) do cargo de diretor executivo de futebol, Gustavo Vieira disse à “ESPN Brasil” que teve o seu trabalho prejudicado pela morosidade nas tomadas de decisões no Santos, principalmente em relação às contratações. Segundo o dirigente, o clube passa por um processo natural de “assentamento político” depois da eleição de José Carlos Peres em dezembro, mas que a dificuldade de coordenar uma nova dinâmica fez com que ele encontrasse dificuldades tanto em atuar no mercado como na gestão do elenco.

“Quando se tem um grupo político [assumindo o clube] começa a ter assentamento natural. Todo trabalho de gestão sempre tem seu assentamento. Traz um desafio para tatear e saber qual será a linha de comando”, disse o dirigente, que ficou 45 dias no cargo. “O meu dia a dia era de um diálogo direto com o presidente, e ele com naturalidade conversaria com as pessoas próximas antes de tomar as decisões. Só que todo esse processo gera morosidade. Mais pessoas, mais ideias, mais debate, demora mais. E no futebol, com os desafios de um início de temporada e a necessidade de definir o elenco, e ainda sem informações financeiras, cria uma dificuldade para gerir o momento, o mercado, a ordem de campo”, completou.

Segundo apuração a reportagem, o insucesso para fechar contratações, renovações de contrato, além de um relacionamento desgastado com o elenco, foram os principais motivos. O estopim foi a não contratação do meia argentino Lucas Zelarayán, do Tigres, do México. Segundo Gustavo Vieira, o insucesso na contratação de Lucas Zelarayán é explicada por uma série de fatores, entre elas uma disponibilidade financeira abaixo da necessária para finalizar o negócio.

“Do Lucas, acho que já é sabido, os clubes procuram tanto um camisa 10 e 9, que é difícil no momento atual. Acompanho o Lucas há um ano e meio no Tigres. Foi uma ‘invenção’ minha, entre aspas, para suprir uma carência de mercado. Toda negociação é difícil quando você não tem noção de quanto dinheiro [terá disponível]. No meio do caminho surgiram outros clubes sul-americanos que fizeram propostas. Tivera vários fatores que fugiram do controle. A gente teve que trabalhar com o menor recurso financeiro possível e assim ficou frustrada a contratação”, disse.

Sem ser específico, Gustavo disse que todo começo de gestão gera disputas políticas e sugeriu que este clima teve reflexo em seu trabalho. Ele também citou, sem detalhes, que o surgimento de “informações não verdadeiras de dentro do clube” prejudicam o trabalho. “No futebol, precisa ter uma linha de comando muito clara. Você tem algumas premissas que são razoavelmente aceitas, de comando unificado. Palavra quando dada é respeitada. Quando é emitida uma decisão precisa ser encadeada. Tudo isso é desafiador. Nosso papel era fazer diagnósticos e oferecer soluções. Quando antes você identificar, corrige a rota. Isso aparenta mais segurança, tanto internamente e externamente. Quando existe uma certa poluição, isso cria uma perturbação em todo o sistema”, explicou.

Desta forma, Gustavo disse que deixa o clube frustrado, mas com a sensação de que o caminho será encontrado. “Saio com a consciência tranquila, mas com um pouco de frustração para não ver a continuidade de um projeto que tem tudo para dar certo”, disse.