ALEX SABINO E DIEGO GARCIA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Menos de dois meses após tomarem posse no Santos, o presidente do clube, José Carlos Peres, e o vice, Orlando Rollo, não se entendem. A reportagem apurou com pessoas ligadas aos dois dirigentes que o vice-presidente ameaça até se licenciar do cargo.
A situação chegou a tal ponto que Rollo saiu de Santos nesta terça-feira (20) para não estar na cidade no momento da demissão do executivo de futebol Gustavo Vieira. Ele era contra a medida.
O licenciamento do vice-presidente abriria um buraco no grupo político que elegeu Peres no pleito realizado em dezembro do ano passado.
O presidente do conselho deliberativo, Marcelo Teixeira, tenta remediar a situação, mas, mesmo ele (presidente do clube entre 1992-1993 e 2000-2009), se espantou com o tamanho das diferenças entre os dois dirigentes.
A última aparição de Peres e Rollo juntos foi em uma foto postada nas redes sociais após a vitória por 1 a 0 sobre o São Paulo, no domingo (18), no estádio do Morumbi.
A amigos, Rollo se queixa de que o presidente não sabe que rumo dar à sua administração e que a cada hora pensa uma coisa. A indecisão teria custado ao Santos a chance de contratar Zelarayán, Nenê, Robinho e Paulo Henrique Ganso. Este último, voltou a interessar ao clube.
O grupo de Peres afirma que Rollo está descontente por ter ficado fora da administração do futebol masculino profissional. Acabou sendo encarregado do feminino e dos esportes olímpicos.
Procurado pela reportagem, Rollo não quis comentar.
Em nota de sua assessoria de imprensa, o presidente José Carlos Peres disse que “por ser democrática, a relação entre os integrantes da diretoria do clube contempla concordâncias e discordâncias. Há de ressaltar que todas as conversas são respeitosas e que, assim, inexiste qualquer problema de relacionamento nesse sentido”.
No meio da disputa entre presidente e vice, está o técnico Jair Ventura, que não recebeu até agora os jogadores prometidos a ele quando aceitou deixar o Botafogo. A principal aquisição do Santos no ano foi a do atacante Gabriel, por empréstimo.
Em resposta a conselheiros que questionaram a demissão de Gustavo Vieira, Peres criticou o trabalho do executivo e afirmou que ele queria levar para o Santos o advogado Carlos Eduardo Ambiel, seu ex-sócio em um escritório de advocacia.
“Quando você tem um grupo político que entra, entre eles também passa a ter um certo assentamento, uma certa disputa de poder e isso gera no ambiente político, no ambiente de decisão, um certo distúrbio”, afirmou Gustavo Vieira, em entrevista à ESPN Brasil.
ASSESSORES
Rollo está cada vez mais descontente com o poder de Daniel Bykoff, assessor de Peres. Reclama que ele tem interferido no futebol e minado planos de contratações.
Bykoff é colaborador de longa data do atual mandatário e foi diretor da ONG Santos Vivo, fundada por Peres em 2000 para fiscalizar o clube quando o presidente era Marcelo Teixeira.
Segundo amigos de Rollo, ele tem se incomodado por estar recebendo críticas pela situação administrativa do clube e pela falta de reforços do time. Afirmou que, por ter sido membro de torcidas organizadas, estar em todos os jogos do clube e ser atuante nas redes sociais, acaba sendo muito abordado por torcedores insatisfeitos.
Com menos de dois meses no cargo, o presidente se movimenta entre conselheiros para conseguir novos apoiadores. Tem conversado regularmente com José Renato Quaresma, que foi candidato a vice na chapa encabeçada por Andrés Rueda, atual integrante do Comitê de Gestão.
Quaresma afirmou a Peres que aceita colaborar. Ele é cotado para ter um cargo ligado ao futebol profissional que, após a saída de Vieira, é coordenado por William Machado. Deivid, ex-atacante do clube, é outro nome cogitado.
A chapa Peres-Rollo, que encerrou a gestão de Modesto Roma Júnior (2015 a 2017), se formou com a união de dois grupos distintos.
Peres começou a construir sua base a partir da criação da ONG Santos Vivo e teve na eleição a realização do seu projeto. Rollo é o líder da Terceira Via e foi adversário de Peres no pleito de 2015. Antes, foi um dos fundadores da Torcida Jovem em Santos.