Foi-se a época em que gênios da guitarra como Eric Clapton, Jimi Hendrix, Jimmy Page e Slash eram a inspiração da juventude. Sinal dos tempos, o mercado de instrumentos musicais, em especial o de guitarras elétricas, está em queda livre após o rock perder espaço entre o grande público para o som eletrônico do pop e do rap (no exterior) e para o batidão do funk e do sertanejo (no Brasil).
Segundo dados da Associação Nacional da Indústria da Música (Anafima), a importação de guitarras e contrabaixos no país caiu 78% entre 2012 e 2017, passando de 212 mil unidades seis anos atrás para 46,7 mil em 2017. A queda das guitarras é a mais signiticativa, mas não é exclusiva: a importação de violões caiu 33% e a de instrumentos de percussão e bateria, 55%.
Em Curitiba, o cenário é tão desalentador ou talvez até pior do que o verificado em todo o território nacional. Evidência disso é que a loja de instrumentos musicais Drum Shop, uma das mais tradicionais da cidade, com 25 anos de existência, registrou uma queda de 60 a 70% no faturamento nos últimos quatro anos.
Melissa Munhoz, sócio-proprietária da empresa, aponta que a situação é reflexo da falta de interesse das novas gerações pela música.A velocidade da internet tirou o glamour de se tocar uma guitarra, um piano. Os milleniuns querem tudo muito mais rápido, afirma a empresária, apontando ainda que a retração, embora tenha afetado o setor como um todo, teve como principal vítima as guitarras.
Foi geral (a queda), mas a guitarra sentimos que parou mesmo. Até pouco tempo vendiamos muitas guitarras por mês, hoje vendemos 10% do que vendíamos, afirma.
Na Cia da Música, o vendedor Pedro Henrique de Carvalho relata um cenário parecido. Segundo ele, até 2016 a empresa vendia o dobro de instrumentos do que vende atualmente. A queda foi de mais ou menos 50%, se não for até maior, diz o vendedor, apontando ainda que a guitarra foi uma das mais impactadas. Para você ter ideia, num dia vendo dois violões. Guitarra vendo uma, duas por semana, complementa.
Além de questões de gosto musical, porém, Pedro Henrique indica ainda outro motivo para o mercado de instrumentos musicais ter despencado: o aumento no custo dos produtos. De dois, três anos para cá, o aumento foi muito grande por causa do dólar, na faixa de 30%. Um instrumento que custava R$ 500 hoje já está custando cerca de R$ 800, finaliza.

A morte do rock’n’roll?
Em setembro do ano passado, ao comentar sobre a tendência fonográfica atual durante o Toronto International Film Festival, Eric Clapton comentou que talvez seja o fim das guitarras. Por mais que o guitarrista tenha se valido do típico humor inglês, a declaração não deixa de ter um tom premonitório.
Prova disso é que a Gibson, uma das marcas de guitarra mais tradicionais do mundo, pode ter de fechar as portas por problemas financeiros. A dívida da empresa supera os US$ 375 milhões, valor que poderá ser acrescido em US$ 145 milhões caso o débito não seja pago até o dia 23 de julho. O faturamento da empresa, que já foi de US$ 2,1 bilhões anuais, está atualmente em US$ 1,7 bilhão.
Também afundada em dívidas e com o faturamento em queda, a Fender, uma das principais concorrentes da Gibson, precisou desistir de vender suas ações no mercado de valores em 2012. Para investidores, a empresa era superestimada – e isso qque na época a Fender faturava US$ 675 milhões, bem mais que os US$ 545 milhões atuais.
Para piorar, desde 2010 os modelos acústicos passaram a superar os elétricos, em termos de volume de vendas.
Para Melissa Muniz, sócio-proprietária da Drum Shop, ainda é cedo para se falar em morte da guitarra elétrica. Ainda assim, ela aponta que a tendência é o instrumento entrar em extinção nas próximas décadas. Ainda é algo prematuro, mas vejo que no futuro, daqui uns 30 anos, talvez deioxe de existir. As novas tecnologias que vão substituir.
Ainda segundo ela, uma possível saída – ainda que improvável neste momento – seria o surgimento de um novo ídolo das guitarras, capaz de despertar o interesse musical nas novas gerações. Teria de surgir algum ídolo da nova geração, porque hoje não tem ninguém que traga essa força. Os ídolos dos jovens são os youtubers, finaliza.