A pouco mais de um mês para a desincompatibilização, o cenário na política paranaense começa a desanuviar e o xadrez político vai mexendo suas peças. Nos últimos dias, este colunista conversou com dirigentes partidários das mais diferentes ideologias e traz um resumo do que se verá nos próximos meses. É bom alertar, caro leitor, que em política tudo pode mudar e até boi pode criar asas e voar…

Uma das peças mais importantes deste xadrez político é o governador Beto Richa (PSDB). E uma movimentação dele tem reflexos na decisão de outros candidatos e até de partidos políticos. Embora não tenha confirmado oficialmente aos eleitores, Beto Richa vai disputar uma vaga ao Senado Federal e no dia 7 de abril ele deixa o Palácio do Planalto para percorrer o Estado.

Seu principal adversário será Roberto Requião (PMDB) que, embora pose como pré-candidato ao governo paranaense, deve mesmo é disputar a reeleição ao Senado. As chances de Requião são maiores para o Senado do que no Palácio Iguaçu. Ele sabe disso e as pesquisas internas do partido confirmam. Mas, como experiente político que é, o peemedebista só deve anunciar o destino na última hora.

Outro que pode despontar como candidato ao Senado é o ex-prefeito de Curitiba Gustavo Fruet na chapa encabeçada por Osmar Dias (PDT). Mas as chances são remotas. Afastado da vida pública há quase dois anos, quando tentava a reeleição, Fruet deve concorrer a uma cadeira de deputado federal.

Já que falamos de Osmar, vamos a ele. O pedetista acredita que chegou o momento dele. Derrotado nas últimas duas eleições, Osmar quer chegar ao Palácio Iguaçu. Inicialmente flertou com Beto Richa, as conversas de uma aliança iam bem, mas não prosperaram. Osmar teve a porta de partidos aliados do governador abertas, mas resistiu, demorou a tomar uma decisão e, segue, no PDT. Restou a ele o apoio do PMDB de Requião. Tudo leva a crer que os dois vão abraçados na eleição.

A tensão está na candidatura dos dois adversários de Osmar: Ratinho Júnior (PSD) e Cida Borghetti (PP). Ambos querem ter Beto Richa na chapa — isso inclui o PSDB e os partidos menores que gravitam em torno do tucano. O governador terá de escolher em qual canoa ele vai colocar os pés, se bem que está tentando deixar um pé cá e outro lá. Beto só quer chegar ao Senado Federal, independente do caminho que terá de trilhar até lá.

A afinidade do governador é maior com Ratinho do que com Cida – embora estejamos falando da vice-governadora. Se a decisão não tivesse tantos desdobramentos no xadrez político, Richa estaria com o deputado estadual. Ratinho é jovem, obteve uma expressiva votação quando disputou a prefeitura de Curitiba em 2016 e detém uma penetração numa faixa eleitoral que Richa necessita para chegar ao Senado. No interior, Ratinho leva vantagem sob os adversários — tanto é que foi eleito o deputado estadual mais votado da Assembleia.

O pé de Beto está também na canoa de Cida por um motivo: Ricardo Barros (PP), ministro da Saúde. É ele quem de fato conduz a candidatura da mulher, Cida Borghetti. Barros tem atuado mais em Brasília do que no Paraná. É por lá que ele tem costurado com os partidos para compor uma ampla aliança para a chapa da mulher.

Barros sabe que a decisão do diretório nacional se sobrepõe sobre a estadual e por isso negocia com os caciques nacionais. Quer um exemplo? O PSB. Na segunda-feira que passou, a legenda se reuniu em Curitiba e a reunião foi para lá de tensa. Severino Araújo, presidente do PSB no Paraná, foi informado pelo diretório nacional que o partido está inclinado a apoiar uma candidatura do PMDB e, caso não haja candidato próprio, a segunda alternativa seria Osmar Dias.

Se a decisão vier goela dentro, de Brasília para o Paraná, assistiremos no início de abril a uma verdadeira debandada de lideranças do partido como os deputados Luiz Cláudio Romanelli, Alexandre Curi, Thiago Amaral, Artagão Júnior, Stephanes Júnior, entre outros. O partido minguaria de votos no Paraná, mas garantiria o tempo de televisão – seja para o PMDB ou Osmar. O PSB paranaense tem pouco mais de um mês para demover a ideia do diretório nacional. Vencida esta etapa vem outra dúvida: PSB iria com Ratinho ou Cida?

O exemplo do PSB é uma realidade em quase todos os outros partidos. As costuras nacionais quase sempre são incompatíveis com o cenário estadual. Cabe a Ratinho e Cida conquistar os partidos da enorme base aliada do governador Beto Richa. A tendência é que a base rache e se divida entre os dois candidatos. Se apenas um deles passar para um eventual segundo turno, a base se une novamente, seja em prol de Ratinho, seja na missão de eleger Cida governadora. Há emissários dos dois lados que tentam, como última cartada, uma aliança entre Ratinho e Cida – o que seria o mundo ideal para Beto Richa. Mas o entendimento é considerado muito improvável.

 

* Esta coluna é publicada todas as quartas-feiras