ROBERTO DIAS, ENVIADO ESPECIAL BARCELONA, ESPANHA (FOLHAPRESS) – O flá-flu das redes sociais é promovido pela mudança na maneira como as pessoas consomem conteúdo, disse um executivo do Facebook. “Criamos uma sociedade que é muito mais informada. Quanto mais informação tivermos, mais chance de atrito teremos”, afirmou Yoav Arnstein, diretor de soluções para publishers do Facebook. “Isso é exasperado numa era em que o conteúdo é personalizado.” Arnstein participou de um debate sobre personalização de conteúdo durante o Mobile World Congress, a principal feira do setor de telecomunicações, que acontece nesta semana em Barcelona. Ele foi questionado sobre a atuação da empresa no combate às fake news. “Levamos esse assunto muito a sério”, respondeu. “Geralmente há um incentivo comercial. Tentamos tirar esses incentivos comerciais e quebrar esse ciclo vicioso”, afirmou, sem entrar em detalhes. Também ouviu uma pergunta sobre que papel a regulação governamental poderia ter em relação ao consumo de conteúdo. “Como alguém vivendo numa sociedade democrática, penso que não cabe apenas ao Facebook responder isso”, disse. Boa parte da discussão girou em torno dos perigos da personalização do conteúdo, tendência alavancada pelo processamento de dados de cada internauta. “As pessoas de fato não entendem totalmente”, afirmou Amit Ahuja, vice-presidente de novos negócios da Adobe. “Quanto mais visibilidade dermos ao motivo de estar fazendo aquilo [com os dados do consumidor], melhor.” “Não é porque você pode fazer algo que você deve fazer algo”, completou Ben Maher, da JCDecaux, a maior empresa de outdoors do mundo. “[Imagine] se as pessoas tivessem ideia das capacidades que temos.” Há uma armadilha no uso exagerado dos dados, afirmou Arnstein, do Facebook. “O consumidor pode pensar que há tanto risco que o valor agregado da personalização deixa de fazer sentido.” Os problemas atuais do consumo de informação estão ligados também a uma questão geracional, como apontou Sarah Rose, diretora do Channel 4, emissora pública da Inglaterra. “As pessoas mais novas veem o mundo de maneira muito mais cínica. Entendem que no Instagram há gente pagando para promover coisas”, afirmou. Outro limite à personalização absoluta reside na curadoria esperada de quem faz jornalismo. “Temos editores, como qualquer emissora. Nossa missão é promover conteúdo diverso. Não podemos perder a essência de nossa marca nesse processo de machine learning. Teremos pessoas físicas”, disse Rose, do Channel 4.