GUILHERME MAGALHÃES
BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – O debate sobre uma polêmica sugestão de mudança da letra do Hino Nacional dominou a semana do Dia Internacional da Mulher, celebrado nesta quinta-feira (8), na Alemanha.
A discussão começou no domingo (4), quando o tabloide “Bild” reportou sobre uma carta interna que circulou para funcionários do Ministério da Família. No documento, Kristin Rose-Möhring, comissária da pasta para igualdade de gênero, sugeria duas alterações na “Canção dos Alemães”.
“Vaterland” deveria ser substituída por “Heimatland” -ambas são usadas no sentido de pátria, mas a primeira é originada da palavra em alemão para pai.
A outra sugestão dizia respeito à frase “brüderlich mit herz und hand” (fraternalmente com coração e mão), que deveria ser “couragiert mit herz und hand” (corajosamente), sem o termo derivado de “brüder”, irmão.
Rose-Möhring cita como exemplos mudanças aplicadas por Áustria e Canadá em seus respectivos hinos em nome da neutralidade de gênero.
Choveram críticas ao documento na segunda-feira (5). Um porta-voz do ministério -que é comandado pelo SPD (Partido Social-Democrata)- afirmou à imprensa que a carta expressava uma “opinião pessoal” da comissária.
Autor de um livro sobre a história do hino, o historiador Clemens Escher, que também é deputado pela CDU (União Democrata-Cristã), foi um dos críticos.
“Há alguns elementos que podem ser considerados machistas na canção porque ela foi escrita no século 19”, afirmou. “A discussão é supérflua.”
Composta em 1841 por August Heinrich Hoffmann, a “Canção dos Alemães” foi declarada Hino Nacional em 1922. A partir de 1933, o regime nazista passou a ignorar a segunda e terceira estrofes, cantando apenas a primeira, com a famosa frase “Deutschland über alles” (Alemanha acima de tudo).
Após a Segunda Guerra (1939-45), os alemães se acostumaram a cantar apenas a terceira estrofe, na qual aparecem os versos debatidos agora. Em 1991, ela foi oficializada como hino do país.
Apesar de a Constituição alemã não reconhecer o hino como um símbolo nacional, alterá-lo não é fácil. É necessário que presidente e chanceler concordem sobre o tema.
O porta-voz de Angela Merkel enterrou essa possibilidade ao informar que a chanceler “está muito feliz” com a letra atual da canção.
Procurada, a assessoria do Ministério da Família disse que a comissária não iria se manifestar.