ESTELITA HASS CARAZZAI
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – O embaixador do Brasil em Washington, Sergio Amaral, defendeu em entrevista à reportagem a postura do país no imbróglio das tarifas sobre o aço exportado para os Estados Unidos, e disse que o governo “agiu preventivamente e continua a agir” para evitar a aplicação da sobretaxa sobre as siderúrgicas nacionais.
Segundo ele, uma ligação do presidente Michel Temer para Donald Trump, como fizeram outros países como o Canadá e a Argentina, pouco adiantaria nesse momento, e será mais oportuna somente nos próximos dias.
“Não havia o que falar. O que adiantava falar com o presidente Trump se ainda não sabíamos qual era a medida, ou quais os critérios para exclusão? Não havia possibilidade de encaminhamento”, afirmou Amaral, para quem o país trabalhou “discretamente”, mas com bons argumentos em prol do aço nacional. 
O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os EUA, que no ano passado compraram US$ 2,6 bilhões (cerca de R$ 8,5 bilhões) das siderúrgicas nacionais. Uma alíquota de importação de 25%, como quer o presidente Trump, inviabilizaria as vendas para o país americano, que é o maior comprador mundial do produto.
Na semana que vem, o Departamento de Comércio dos EUA deve divulgar os critérios e procedimentos para os pedidos de exclusão da tarifa, a serem enviados pelas indústrias americanas que dependem do insumo importado. As siderúrgicas brasileiras, em articulação com o Itamaraty, têm feito lobby para convencer seus clientes no país a intercederem em favor do país.
O Brasil também tem reforçado o posicionamento contra as tarifas no Congresso e no governo americano. 
Nesta terça (13), o Itamaraty enviou uma carta ao Escritório da Representação Comercial dos EUA (USTR), que conduz as negociações bilaterais do governo americano, expondo novamente os argumentos em favor do aço brasileiro.
O principal deles é que o produto nacional é semiacabado e não concorre com o americano, mas serve de insumo para a indústria siderúrgica dos EUA. “São indústrias complementares”, afirmou Amaral.
O embaixador afirma acreditar na possibilidade de reversão da medida por meio de uma solução negocial. “Em uma reunião no Congresso, nos disseram que nosso caso é mais forte que o do Canadá”, declarou. 
Ele destaca também o bom relacionamento do país com os EUA na área da defesa, inclusive com cooperação e compra de equipamentos, e o superávit que os americanos tiveram na última década na balança comercial com o Brasil -uma obsessão do presidente Trump, que quer reduzir os déficits comerciais do país.
Nesta semana, o presidente Temer afirmou que o país pode recorrer à OMC (Organização Mundial do Comércio) caso o pleito não seja atendido, e diz que irá ligar para Trump nos próximos dias. O ministro da Indústria e Comércio Exterior, Marcos Jorge de Lima, não descartou a imposição de sobretaxas a produtos americanos em retaliação à medida.
O governo brasileiro, porém, ainda aposta na negociação bilateral. Nesta quinta, o embaixador Amaral passou o dia em reuniões no Congresso, e deve prosseguir nesse ritmo nos próximos dias.