IGOR GIELOW, ENVIADO ESPECIAL
MOSCOU, RÚSSIA (FOLHAPRESS) – O pleito presidencial deste domingo (18) marcará a estreia nas filas de votação para presidente de toda uma geração que apenas conheceu a vida sob Vladimir Putin à frente do Kremlin.
“Às vezes, eu me pergunto como seria sem ele. Não tenho uma resposta. Mas o mundo é globalizado, temos celulares, canais estrangeiros e um resto de mídia livre. Sabemos que pode ser diferente”, diz Viktor Prenunin.
Com quase 20 anos, ele está fora do contingente de 1,26 milhão de russos nascidos em 2000 (ano da primeira eleição de Putin) que poderão votar neste ano. Mas tampouco conheceu outro líder do país. “Tinha menos de dois anos naquele Réveillon.”
Ele fala de 31 de dezembro de 1999, quando Boris Ieltsin renunciou em favor de seu premiê, no cargo desde agosto. Em março seguinte, Putin se elegeria presidente. Em 2004, reelegeu-se. Quatro anos depois, fez o sucessor, só para controlá-lo da cadeira de primeiro-ministro, a qual deixou para voltar à Presidência em 2012.
Prenunin nasceu em Saratov, no limite da Rússia europeia com a asiática. A política sempre esteve presente em casa. Seu pai era treinador de ginastas na cidade e crítico do regime soviético, tendo passado três anos preso por isso nos anos 1980.
Com o fim da União Soviética, o esportista deixou a família e emigrou para Israel, como cerca de 1 milhão de judeus do país. Lá formou nova família, com dois meio-irmãos de Prenunin.
“Há dois anos, vim para Moscou estudar física. Foi onde vi que era possível encontrar pessoas que queriam saber mais desse mundo que a gente vê nos sites. Somos europeus, afinal”, diz o jovem.
A militância o levou à Juventude Iabloko, do partido liberal homônimo. Na sede moscovita da sigla, ele falou enquanto ajudava a organizar caixas de material da campanha de Grigori Iavlinski.
É vice-líder do movimento, que conta com escassos 20 voluntários. “Tenho de continuar tentando. Vamos perder, mas nenhum país foi democrático o tempo todo. Nós seremos um dia.”
O TEMIDO VLADIMIR
Masha Pimenova, integrante da turma nascida em 2000, mora com a tia Vera em Khabarovsk, no extremo oriente russo. “Não vejo problema em só conhecer Putin. Pelo que todo mundo me conta, a vida era muito pior antes por aqui”, diz, por e-mail.
Na cidade dela, de 600 mil habitantes, eleições são repetições da era comunista: vota-se no indicado pelo governo. “Aqui é muito longe de Moscou e muito perto da China. Putin é um presidente que atemoriza seus adversários; não corremos risco com ele”, escreve Masha, emulando o sentimento registrado por pesquisas de opinião, que dão mais de 80% de aprovação ao presidente.
De forma algo contraditória, ela participou de protestos contra o governo convocados pelo blogueiro Alexei Navalni em 2017. “Gosto de Putin, mas o governo tem muita corrupção”, afirma.
A Rússia que Putin teoricamente deixará para um sucessor em 2024 será diferente, contudo.
Depois do que Prenunin chama de “a tragédia dos anos 1990”, alimentada por crise econômica profunda, o país voltou a ter uma taxa de crescimento populacional mais saudável.
Entre 1988, no ocaso soviético, e 1994, caiu de 5 para -6 o índice de nascimentos por mil habitantes. A partir de 2005, já sob Putin, a taxa passou a subir rapidamente, atingindo índices positivos a partir de 2013, segundo o Serviço Federal de Estatísticas.
Famílias têm direito a transporte gratuito e a rações de leite a partir do terceiro filho, por exemplo.