IGOR GIELOW MOSCOU, RÚSSIA (FOLHAPRESS) – As urnas mal acabaram de ser fechadas em Moscou e a oposição do país já batia boca pesadamente. A candidata a presidente Ksenia Sobchak pediu para participar de um “live” com o líder dos protestos contra o governo de 2017, o ativista e blogueiro Alexei Navalni. Ksenia, filha do mentor político de Vladimir Putin, apresentou-se como uma candidata agressiva contra o sistema de poder na campanha, mas sempre teve de responder às insinuações de que era um “projeto” –jargão político russo para personagens que fazem oposição consentida, para manter a imagem de que o país é uma democracia ao estilo ocidental. “Nós somos mais amigos do que inimigos, temos de nos unir”, afirmou Ksenia, 36. “Não sou seu amigo”, rebateu à queima-roupa Navalni, 41.

Ele partiu para o ataque: “Não estamos do mesmo lado. Você é um instrumento de Putin! Você está no mesmo lado de [Serguei] Sobianin!”, disse o blogueiro, citando o prefeito moscovita, um feroz apoiador do Kremlin que foi elogiado pela presidenciável por ter permitido a instalação de uma placa em homenagem a Boris Nemtsov, oposicionista que foi morto perto do Kremlin em 2015. Ksenia passou a elencar o que considera vitórias simbólicas dos últimos meses, como a homenagem a Nemtsov e abertura de um jardim de infância.

O nível do debate mostra o quão divididos estão os grupos contrários a Putin no país, no caso de nem Ksenia, nem Navalni, serem “projetos”. A suspeita recai sobre o blogueiro na visão de políticos de oposição históricos, como os ligados ao partido liberal Iabloko. De todo modo, Ksenia concorreu, e Navalni foi barrado de entrar na disputa devido a uma condenação judicial que ele afirma ser resultado de perseguição pelo Kremlin.

Nas pesquisas eleitorais, contudo, ele nunca passou dos mesmos 1% da candidata, que é uma socialite que migrou de “reality shows” para o jornalismo político na TV. Na semana passada, Ksenia anunciou que irá formar um novo partido com Dmitri Gudkov, outro ex-aliado de Putin que foi o único deputado a não votar em favor da anexação da Crimeia em 2014. Eles usarão a estrutura já existente do Iniciativa Cívica, partido pelo qual a socialite concorreu, que foi fundado pelo ex-ministro da Economia Andrei Netchaev. Outro jovem, com 38 anos, Gudkov é visto como um rival potencial de Navalni.