NELSON DE SÁ
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – André Torretta, presidente da Ponte Estratégia, que anunciou em 2017 um acordo operacional e a mudança de nome para Cambridge Analytica Ponte, diz que o noticiário sobre a empresa britânica o surpreendeu.
“Eu tomei um susto”, declara o empresário. “Nunca vi alguém ter acesso a esses dados [do Facebook]. Também fui pego de surpresa.”
Ele acrescenta: “Eu não tive nunca acesso aos dados que estão dizendo por aí”. Repetidamente, Torretta afirma que “esse que é o escândalo, ninguém nunca teve acesso a essa informação”, que foi colhida no Facebook.
Em nota no sábado (17), a Ponte havia anunciado a suspensão do acordo com a Cambridge Analytica “até que tudo seja esclarecido”. À reportagem Torretta deu a entender que não há perspectiva de retomada: “Difícil a galinha voltar para o ovo”.
“Era um acordo operacional e deixa de existir, pura e simplesmente assim, não tem mais”, declara.
‘EU JÁ ERA ALGUÉM’
Mas ele não pretende rever os negócios já encaminhados. “Mantenho todos os projetos”, diz. “A gente na Ponte já tinha desenvolvido tecnologias estratégicas brasileiras. Eu, antes da Cambridge, já era alguém.”
Acrescenta que “é uma triste notícia, mas não é algo que afete profundamente a minha vida, é só uma triste notícia”. Atuando em campanhas eleitorais desde 1994, ele criou a empresa em 2008, com clientes não só políticos mas da iniciativa privada.
A Ponte, não mais CA Ponte, estaria “quase amarrada com campanhas majoritárias” para candidatos a governador de três estados.
O empresário negou, porém, que um deles seja o prefeito João Doria, escolhido como o candidato do PSDB em São Paulo. “Tinham falado que o primeiro cliente da Cambridge no Brasil seria Doria, mas não. Eu gosto muito dele, mas a gente não tem relação profissional.”
Em entrevista à Folha de S. Paulo, em dezembro, Torretta já havia procurado diferenciar sua empresa da Cambridge Analytica, por não se restringir a candidatos e bandeiras de direita, conservadores.
Além de mais aberto à esquerda, também afirmou que não atuaria para candidatos extremistas, lembrando o caso de um familiar torturado na ditadura militar.
Embora com campanhas encaminhadas, Torretta considera que a situação no Brasil é de “instabilidade jurídica muito grande” quanto ao que fazer no ambiente digital.
A legislação mudou em outubro, passando a permitir a compra de “direcionamento” em redes sociais, mas não “comprar dados”, apenas melhorar os dados. “A gente é muito novo nessa história”, diz. “Está todo o mundo [nas campanhas] com receio.”