CATIA SEABRA E TAÍS HIRATA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A divulgação de gravações de conversas sobre a bilionária licitação da PPP (Parceria Público Privado) da iluminação pública na cidade de São Paulo derrubou nesta quarta-feira (21) a diretora do Ilume (Departamento de Iluminação Pública da capital paulista), Denise Abreu.
As conversas, reveladas nesta manhã pela rádio CBN e pela Record e obtidas pela reportagem revelam suposta preferência da então diretora por uma das concorrentes, e posteriormente vencedora da disputa, a FM Rodrigues, que nega irregularidades.
Gravados por sua então secretária, Cristina Chaud Carvalho, os áudios deixam transparecer até uma intimidade de Abreu com Marcelo Rodrigues, um dos sócios da FM Rodrigues, que, após acirrada disputa judicial, saiu vencedora da licitação graças à desabilitação do consórcio adversário, o Walks.
Nas conversas, gravadas entre outubro de 2017 e fevereiro de 2018, Abreu chega a usar a primeira pessoa do plural, “nós”, ao se referir à FM Rodrigues e se declara inimiga de Walter Torre, empresário que integra o consórcio concorrente.
A Walks foi desclassificada por decisão da comissão de licitação da Prefeitura, que tem subordinados de Abreu entre seus integrantes. O valor em disputa é de R$ 7 bilhões.
‘SEUS TRÊS’
Em uma conversa ocorrida no início de dezembro, após a Walks obter na Justiça direito de participar da licitação, Abreu avisa à secretária que vai lhe dar “seus três”. Atual concessionária, a FM Rodrigues acabava de ter um contrato emergencial assinado com a Prefeitura de São Paulo.
As duas mencionam o dono da FM Rodrigues ao descrever a irritação do empresário com a possibilidade de vitória do concorrente no certame.
“Preciso falar com você. Eu vou te dar os seus três. Mas a empresa [a FM Rodrigues] não tem mais contrato e eu não vou ter como apoiá-la daqui para frente com isso. É último mês. Simplesmente não tem como”, diz Abreu.
Nenhuma delas esclarece o que significariam esses “seus três”.
Na conversa, Denise Abreu se queixa: “Estão deixando o Walter andar. Estão deixando o Walter ganhar e o cara [Marcelo Rodrigues] falou. ‘Tô fora’. Não tenho nenhum contato nem vou me mexer com a Walter Torre. Nem vou. Ao contrário. Sou inimiga deles.”
A secretária pergunta: “Mas a PPP você não vai ganhar?” Abreu responde: ” Não. A PPP, existem dois concorrentes”.
A diretora faz então um relato à secretária. Diz que existe a FM Rodrigues. A secretária interrompe: “Que é de seu Marcelo”.
PROPINA
Denise Abreu ainda afirma, nas gravações, que os secretários municipais Marcos Penido (Obras), Julio Semeghini (Governo), receberiam propina da Eletropaulo, ao falar sobre uma vitória em uma queda de braço entre a prefeitura e a fornecedora de energia.
“Os que ganham propina da Eletropaulo devem estar lá assim ‘Ai, meu Deus do céu, acabou minha propininha. O que eu faço agora?’ Penido, Julio Semeghini, todo mundo sabe que recebem propina da Eletropaulo”, diz.
OUTRO LADO
Em nota, a SP Obras afirmou que a ex-diretora do Ilume Denise Abreu assinou um documento, registrado em cartório, no qual declara que jamais interferiu no processo licitatório da PPP da Iluminação Pública e que afirmou desconhecer totalmente “qualquer tipo de envolvimento ilícito entre os secretários Marcos Penido (Serviços e Obras) e Julio Semeghini (Governo) com a Eletropaulo.
“A Secretaria Municipal de Serviços e Obras reafirma que a Comissão Especial de Licitação conduziu o processo da PPP dentro da total legalidade e ressalta que Denise Abreu não participou da comissão de licitação, nem teve qualquer papel decisivo neste processo.”
Na nota, a prefeitura ainda afirma que os secretários Marcos Penido e Julio Semeghini rechaçam qualquer envolvimento irregular com a Eletropaulo ou qualquer outra empresa.
Procurada, a Eletropaulo ainda não se pronunciou.
A FM Rodrigues afirmou, em nota, que “não cometeu nenhum ato irregular ao longo do processo da PPP da iluminação pública” e que “sempre esteve pautada pela ética e pela relação de confiança com clientes, população e administrações públicas”. A empresa ainda disse que “cabe ressaltar que a ex-diretora da Ilume sequer participou do processo da PPP, não tendo qualquer influência sobre a condução desse processo, que ficou a cargo da secretaria de Serviços e Obras”.
A WTorre, que também foi procurada, ainda não se pronunciou sobre o tema. O consórcio Walks, do qual a companhia faz parte, afirmou em nota que “foi alvo de diversas decisões da Comissão de Licitação que visavam sua impugnação, mesmo diante de reiteradas decisões da Justiça que reafirmavam o direito do Consórcio Walks de participar da concorrência” e que entrou com recurso na Justiça assim que a vitória da FM Rodrigues foi declarada.