CÁTIA SEABRA E TAÍS HIRATA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A divulgação de gravações de conversas sobre a licitação bilionária da PPP (Parceria Público-Privado) da iluminação pública na cidade de São Paulo derrubou, nesta quarta-feira (21), a diretora do Ilume (Departamento de Iluminação Pública), Denise Abreu.
O órgão deverá ser assumido pelo procurador municipal Paulo Cesar Nannini.
As conversas, reveladas na noite de terça-feira (20) pela rádio CBN e pela TV Record e obtidas pela reportagem, revelam uma suposta preferência da então diretora por uma das concorrentes, e posteriormente vencedora da disputa, a FM Rodrigues, que nega irregularidades.
Os áudios, gravados por sua então secretária, Cristina Chaud Carvalho, deixam transparecer até uma intimidade de Abreu com Marcelo Rodrigues, um dos sócios da FM Rodrigues, que, após acirrada disputa judicial, saiu vencedora da licitação em razão de o consórcio adversário, o Walks -formado pela Quaatro Participações, a WPR (subsidiária do grupo WTorre) e a KS Brasil Led Holdings- ser desabilitado.
As conversas foram gravadas entre outubro de 2017 e fevereiro de 2018. O contrato, com valor de R$ 6,9 bilhões e tem duração de 20 anos, foi assinado no dia 8 de março.
A Prefeitura de São Paulo afirmou, por meio de assessoria de imprensa, que determinou a instauração de uma investigação pela CGM (Controladoria-Geral do Município) -a depender do resultado, a PPP poderá ser suspensa, mas, enquanto isso, segue normalmente.
Em um dos áudios, de dezembro, após a Walks obter na Justiça direito de participar da licitação, Abreu avisa à secretária que vai lhe dar “seus três”. Atual concessionária, a FM Rodrigues acabava de ter um contrato emergencial assinado com a prefeitura.
As duas mencionam o dono da FM Rodrigues ao falar da irritação do empresário com a possibilidade de vitória da Walks. “Preciso falar com você. Eu vou te dar os seus três. Mas a empresa [a FM Rodrigues] não tem mais contrato e eu não vou ter como apoiá-la daqui para frente com isso. É último mês. Simplesmente não tem como”, diz Abreu.
Elas não esclarecem o significado de “seus três”.
Na conversa, Abreu se queixa: “Estão deixando o Walter andar. Estão deixando o Walter ganhar e o cara [Marcelo Rodrigues] falou: ‘Tô fora’. Não tenho nenhum contato nem vou me mexer com a Walter Torre. Nem vou. Ao contrário. Sou inimiga deles.”
Abreu afirma que os secretários municipais Marcos Penido (Serviços e Obras) e Julio Semeghini (Governo) receberiam propina da Eletropaulo, ao falar sobre uma vitória em uma queda de braço na prefeitura.
“Os que ganham propina da Eletropaulo devem estar lá assim: ‘Ai, meu Deus do céu, acabou minha propininha. O que eu faço agora?’ Penido, Julio Semeghini, todo mundo sabe que recebem propina da Eletropaulo”, diz.
OUTRO LADO
A prefeitura afirmou que Abreu assinou um documento, registrado em cartório, no qual declara que jamais interferiu na licitação. Na nota, a assessoria disse que os secretários rechaçam qualquer irregularidade.
A Eletropaulo disse que “tomará as medidas legais cabíveis em relação a qualquer comentário inverídico”.
A FM Rodrigues afirmou que “não cometeu nenhum ato irregular”.
A WTorre não se pronunciou sobre o tema. A Walks, do qual a companhia faz parte, afirmou que “foi alvo de diversas decisões da comissão de licitação que visavam sua impugnação”.