SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ex-presidente da França Nicolas Sarkozy foi indiciado nesta quarta-feira (21) no caso em que é acusado de receber dinheiro do ex-ditador da Líbia, Muammar Gaddafi (1942-2011), para financiar sua vitoriosa campanha eleitoral à Presidência em 2007.
Sarkozy responderá por corrupção passiva, financiamento ilegal de campanha e recebimento de dinheiro desviado dos cofres públicos líbios. Ele foi liberado pela polícia após 25 horas de depoimento e responderá ao processo em liberdade, mas sob controle judicial.
No direito francês, isso significa que os movimentos do acusado podem ser restringidos, que ele deve cumprir determinações do juiz ou pode ter de pagar fiança. As condições impostas a Sarkozy não foram informadas.
A investigação está aberta desde 2013, no rastro das informações publicadas um ano antes pelo site Mediapart, que mostrou um documento líbio apontando o suposto financiamento ilegal.
Segundo os responsáveis pelo inquérito, o político conservador teria recebido € 50 milhões de Gaddafi, mais do que o dobro do limite de € 21 milhões permitido à época para financiamento da corrida presidencial.
O pagamento também viola a lei eleitoral francesa, que obriga os candidatos a cargos públicos a declararem todas as doações.
A investigação ganhou impulso em 2016, quando o empresário franco-libanês Ziad Takieddine disse ao Mediapart que havia entregado a Sarkozy e a seu chefe de gabinete, Claude Guéant, malas de dinheiro vivo contendo € 5 milhões. Ele repetiu as acusações nesta quarta, em entrevista à TV francesa BFM.
De acordo com Takieddine, os valores foram entregues em três encontros, quando Sarkozy ainda era ministro do Interior, último cargo que ocupou antes das eleições.
Presidente de 2007 a 2012, Sarkozy qualificou a denúncia como grotesca e afirmou que se trata de uma manipulação. Um de seus aliados mais próximos, Brice Hortefeux, um ex-ministro do Interior e atualmente deputado no Parlamento Europeu, também foi interrogado nesta terça-feira (20).
Há outras denúncias de financiamento ilegal envolvendo Sarkozy, desta vez em relação à campanha eleitoral de 2012, quando foi derrotado pelo socialista François Hollande.
O acúmulo de denúncias é uma das razões pelas quais Sarkozy não venceu as primárias de seu partido, os Republicanos, para disputar o pleito do ano passado -o ex-premiê François Fillon foi o escolhido.
RELAÇÃO
O caso de “caixa dois” é uma das faces da relação complexa entre Sarkozy e Gaddafi. Em dezembro de 2007, o líbio foi recebido com honras de chefe de Estado em Paris.
Quatro anos depois, porém, Sarkozy colocaria a França na liderança da coalizão da ONU para derrubar o ditador, que morreu em outubro daquele ano.
Em março de 2011, quando Paris acabara de reconhecer a oposição a Gaddafi, o filho do autocrata, Seif el-Islam, disse, sem apresentar provas: “Sarkozy tem que devolver o dinheiro.”