SÉRGIO RANGEL
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Um policial militar e um morador foram mortos na noite desta quarta-feira (21) na Rocinha, na zona sul do Rio.
Ambos foram baleados durante um tiroteio iniciado no Largo do Boiadeiro.
O confronto entre traficantes e policiais da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) teve início por volta das 20h15. De acordo com policiais do 23º BPM (Leblon), as vítimas foram socorridas para o Hospital Municipal Miguel Couto, na Gávea, mas não resistiram.
O morador morto foi identificado como Antonio Ferreira da Silva, conhecido como Marechal na comunidade. Ele tinha uma barraca na região conhecida como Valão.
O nome do PM ainda não foi divulgado.
Nas redes sociais, moradores relataram outros confrontos em diferentes localidades da Rocinha após as mortes. O tiroteio recomeçou no Largo do Boiadeiro pouco antes das 21h10 e durou cerca de 20 minutos.
O policial da UPP da Rocinha foi o segundo militar morto nesta quarta. Pela manhã, o sargento Maurício Chagas Barros, 37, foi assassinado durante uma operação no Gogó da Ema, em Belford Roxo, Baixada Fluminense. 
Com as duas mortes, o Rio contabiliza 29 policiais militares mortos. 
Por causa do confronto, o túnel Zuzu Angel ficou fechado por mais de meia hora. O túnel liga a Gávea até São Conrado.
Desde setembro, a Rocinha tem sido palco de tiroteios e assassinatos em virtude da disputa territorial pelo comando da venda de drogas entre os traficantes Antônio Bonfim Lopes, o Nem, e Rogério 157. A disputa já deixou quase 30 mortos desde então.
No mês passado, o governo federal decretou intervenção na segurança pública do estado. Neste período, o Exército ainda não fez operação na comunidade, uma das maiores da zona sul da cidade.
CRISE
Com as duas mortes, o Rio contabiliza 29 policiais militares morto no estado do Rio este ano.
Desde setembro, a Rocinha tem sido palco de tiroteios e assassinatos em virtude da disputa territorial pelo comando da venda de drogas entre os traficantes Antônio Bonfim Lopes, o Nem, e Rogério 157.
O Rio de Janeiro passa por uma grave crise política e econômica, com reflexos diretos na segurança pública. Desde junho de 2016, o estado está em situação de calamidade pública e conta com o auxílio das Forças Armadas desde setembro do ano passado.
Não há recursos para pagar servidores e para contratar PMs aprovados em concurso. Policiais trabalham com armamento obsoleto e sem combustível para o carro das corporações. Faltam equipamentos como coletes e munição.
A falta de estrutura atinge em cheio o moral da tropa policial e torna os agentes vítimas da criminalidade. Somente neste ano, 27 PMs foram assassinados no estado -foram 134 em 2017.
Policiais, porém, também estão matando mais. Após uma queda de 2007 a 2013, o número de homicídios decorrentes de oposição à intervenção policial está de volta a patamares anteriores à gestão de José Mariano Beltrame na Secretaria de Segurança (2007-2016). Em 2017, 1.124 pessoas foram mortas pela polícia.
Em meio à crise, a política de Unidades de Polícia Pacificadora ruiu -estudo da PM cita 13 confrontos em áreas com UPP em 2011, contra 1.555 em 2016. Nesse vácuo, o número de confrontos entre grupos criminosos aumentou.
Com a escalada nos índices de violência, o presidente Michel Temer (MDB) decretou a intervenção federal na segurança pública do estado, medida que conta com o apoio do governador Luiz Fernando Pezão, também do MDB.
Temer nomeou como interventor o general do Exército Walter Braga Netto. Ele, na prática, é o chefe das forças de segurança do estado, como se acumulasse a Secretaria da Segurança Pública e a de Administração Penitenciária, com PM, Civil, bombeiros e agentes carcerários sob o seu comando. Braga Netto trabalha agora em um plano de ação.
Apesar da escalada de violência no Rio, que atingiu uma taxa de mortes violentas de 40 por 100 mil habitantes no ano passado, há outros estados com patamares ainda piores.
No Atlas da Violência 2017, com dados até 2015, Rio tinha taxa de 30,6 homicídios para cada 100 mil habitantes, contra 58,1 de Sergipe, 52,3 de Alagoas e 46,7 do Ceará, por exemplo.