SYLVIA COLOMBO LIMA, PERU (FOLHAPRESS) – Um dia antes de completar 55 anos, o engenheiro civil Martín Vizcarra desembarca em Lima e recebe como presente de aniversário assumir o mandato de um presidente que não conseguiu permanecer no cargo por mais do que 19 meses. Antes de embarcar de Ottawa, onde servia como embaixador, para Lima nesta quinta-feira (21), ele disse estar indignado pela situação atual do país, sem mencionar o presidente Pedro Pablo Kuczynski, que renunciou ao cargo. “Mas tenho a convicção de que juntos demonstraremos mais uma vez que poderemos seguir em frente. Por isso, volto ao Peru para me colocar à disposição do país, respeitando o que manda a Constituição.” De classe média, Vizcarra, que deve ser empossado nesta sexta (23), nasceu em Lima, mas toda a família dele é de Moquegua, no sul. Passou a maior parte da vida profissional no setor da construção. Em 2010, decidiu se candidatar a governador de seu departamento. Ganhou a eleição e se destacou no cargo, fazendo de Moquegua um modelo na área de educação. Sua atuação nessa área o levou a entrar no radar de PPK. Em princípio, foi designado para a pasta de Transporte. Assim como outros ministros, sofreu fortes pressões do fujimorismo -o Força Popular, partido de Keiko Fujimori, conseguiu derrubar por vias legais cinco ministros e um primeiro-ministro. Para poupá-lo, PPK o alçou a vice-presidente e designou-o para a Embaixada no Canadá. Quando a crise se agravou, em dezembro, antes da primeira moção de vacância contra PPK, Vizcarra voltou ao país, jurou lealdade ao chefe e disse que renunciaria caso ele fosse afastado. Para o professor de ciência política Fernando Tuesta, a chegada de Vizcarra marca o início de “um outro governo”. Seu principal desafio, nos primeiros meses, será “tomar medidas concretas para evitar ser dependente do fujimorismo”. Quando PPK assumiu, o bloco estava unido (eram mais de 70 congressistas). Hoje, há o grupo de Keiko, majoritário, e o de Kenji, o caçula. Para o jornalista Gustavo Gorriti, “a tarefa não vai ser fácil, mas ele tem mais condições de dialogar com o fujimorismo do que PPK”.