FABIANO MAISONNAVE
BELÉM, PA (FOLHAPRESS) – Após expulsar garimpeiros ilegais, duas lideranças de comunidades ribeirinhas sofreram ameaças de morte e fugiram de um assentamento do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) na região de Itaituba, oeste do Pará. 
Francisco Firmino Silva, 68, e Ageu Lobo Pereira, 36, têm liderado um processo de autodemarcação do PAE (Projeto de Assentamento Agroextrativista) Montanha e Mangabal. Apesar de criado em 2013, o Incra não fez até agora a delimitação da área, que sofre com a invasão de garimpeiros de ouro e madeireiros.
Em novembro do ano passado, a reportagem da Folha acompanhou uma etapa da demarcação, feita pelos ribeirinhos com a ajuda de guerreiros mundurucus. O processo consiste em abrir picadas na divisa do PAE e pendurar placas pintadas à mão contra invasores onde deveriam estar marcos do Incra.
Na mata, a expedição encontrou garimpeiros ilegais trabalhando dentro do PAE. Após o flagrante, Pereira solicitou que eles se retirassem da área. 
Em conversa por telefone nesta quinta-feira (22), ele disse não ter dúvidas de que as ameaças estão ligadas à autodemarcação, que também encontrou estradas clandestinas de madeireiros. 
“Os garimpeiros foram expulsos e estão revoltados. Essa ameaça vem de muito tempo e agora está chegando cada vez mais perto”, afirmou a liderança, que escapou no último domingo (18) com a ajuda da CPT (Comissão Pastoral da Terra), após ser informado de que havia uma emboscada para ele. 
Os dois já protocolaram um pedido de proteção à Secretária de Segurança Pública do Pará. Como evidência, apresentaram o áudio de uma gravação telefônica em que um motorista de ônibus da região diz a Pereira que há garimpeiros que querem matá-lo.
O PAE tem cerca de cem famílias cadastradas e uma área de 54,4 mil hectares. Os moradores são, na definição local, beiradeiros: vivem às margens do rio Tapajós e descendem de famílias estabelecidas há pelo menos 150 anos.
A principal atividade econômica da região de Itaituba é o garimpo de ouro, feito tanto em terra como por meio de dragas. Muitos moradores do PAE prestam serviços aos garimpeiros, incluindo venda de alimentos e roupas, e alguns trabalham diretamente com a exploração de ouro. 
A família de Pereira mora na área do PAE há sete gerações. É a primeira vez que ele teve de deixar o lugar onde nasceu por problema de ameaça.
“Não é fácil a gente largar a colônia da gente, a família”, diz a liderança, que pretende voltar para casa caso consiga proteção policial. “É muito doído isso, muito difícil.”