LUCAS VETORAZZO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Na primeira investida da intervenção federal na segurança do Rio fora dos limites da região metropolitana da capital, as forças de segurança apreenderam, em Angra dos Reis, 60 quilos de maconha e recuperou cinco carros roubados. 
A ação começou na quinta-feira (22), na favela do Frade, às margens da Rio-Santos e a cerca de 100 metros do principal atracadouro de lanchas de luxo na cidade. A favela é reduto do Comando Vermelho na região. Angra está a cerca de 170 quilômetros de distância da capital fluminense, na região sul do estado.
O objetivo dos militares é estender a operação para a turística Paraty, a 96 quilômetros de Angra, e nas petroleiras Macaé e Campos dos Goytacazes, no norte do estado do Rio. Essas cidades, que já observavam favelização na última década, vivenciaram a migração de traficantes de drogas com o projeto das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e o aumento dos índices de violência urbana.
Na operação desta quinta-feira em Angra, os militares seguiram padrão utilizado em outras favelas da capital: cerco aos acessos, revistas a pedestres e veículos, desobstrução de vias e a chamada “estabilização do terreno”, que é quando os militares consideram que a região está livre da atuação de criminosos, ainda que aparentemente. 
Militares e a polícia apreenderam junto com os 60 quilos de maconha material para embalar drogas e duas motocicletas roubadas, além dos cinco carros recuperados. No total, foram revistados cerca de mil pedestres, 56 caminhões, 610 veículos de passeio, 256 motocicletas e 41 vans e ônibus de passageiros.
A operação faz parte das ações da intervenção federal na segurança pública do Rio. A medida inédita foi anunciada em 16 de fevereiro pelo presidente Michel Temer (MDB), com o apoio do governador Luiz Fernando Pezão, também do MDB.
MARIELLE
Braga Netto é na prática o responsável pelas investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco, 38, e de seu motorista, Anderson Gomes, 39. As mortes ainda não foram esclarecidas e ninguém foi preso até o momento.
Marielle foi morta no último dia 14, em crime que gerou comoção nacional. Em Angra dos Reis, moradores relataram que os traficantes conseguiram evitar o cerco e deixar a favela. Não houve troca de tiros com a chegada das Forças Armadas na manhã de quarta. 
Em fevereiro, operação do Bope (Batalhão de Operações Especiais), grupo de elite da Polícia Militar, deixou oito mortos na comunidade. O recrudescimento da violência em Angra afeta moradores locais e vez ou outra atinge também os turistas.
A região da Costa Verde, que engloba as cidades do litoral sul do estado, também tem observado atuação de grupos milicianos, que exploram serviços como transporte público e distribuição de gás e TV a cabo. A violência nas favelas da cidade está em seu pior patamar, e não é de hoje.
No Mapa da Violência de 2016, com dados de 2015, a cidade já era a 17ª do Estado em proporção de mortes por arma de fogo por 100 mil habitantes. A taxa era de 29,6. Até novembro de 2017, 153 pessoas haviam morrido de forma violenta na cidade, quase o total de 2016 (158), ano que registrou a maior quantidade dessas mortes desde o início da série histórica, em 2003.
Segundo o delegado responsável pela área, Bruno Gilaberte, a maior parte dessas vítimas era ligada ao tráfico. Sendo assim, os principais afetados são os moradores de favelas, que hoje representam 34% da população da cidade.
Além da suspeita de migração de criminosos do Rio devido à instalação das UPPs na capital, o delegado explica o recrudescimento da violência de três formas: o aumento do poder bélico do tráfico, a expansão e capilaridade das facções e a falta de oportunidades de trabalho.
A cidade vive principalmente da renda advinda pela concentração de estaleiros e usina nuclear, além do funcionalismo público. Os dois primeiros estão fechando milhares de postos de trabalho. O estaleiro Brasfels chegou a ter 12 mil contratados. Hoje tem cerca de 2.000, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos.
O Exército também patrulhou nesta quinta-feira a Vila Kennedy, comunidade na zona oeste do Rio. Nas duas ações do dia, foram empregados 1.382 militares das Forças Armadas, 270 policiais militares, 50 policiais civis e 19 agentes da Polícia Rodoviária Federal com apoio de blindados.