SYLVIA COLOMBO LIMA, PERU (FOLHAPRESS) – Após o Congresso peruano aprovar a renúncia apresentada na última quarta-feira (21) por Pedro Pablo Kuczynski por 105 votos (12 foram contra e 13 se abstiveram), o até então vice-presidente do país Martín Vizcarra, 55, assumiu a Presidência, que deve ocupar até o fim do mandato de seu antecessor, em 2021.

Pouco antes das 13h locais (15h em Brasília), Vizcarra entrou no recinto do Congresso, sendo aplaudido por parlamentares e convidados, contrastando com a posse de PPK (como é conhecido o ex-presidente), que na sua posse chegou a enfrentar vaias. Após receber a faixa presidencial do líder do Congresso, o fujimorista Luis Galarreta, Vizcarra prestou juramento e fez um breve discurso de pouco menos de 20 minutos.

Nele, reforçou a necessidade de o Peru “virar a página desse momento difícil” e afirmou que sua gestão buscará um “pacto social” e combater a “política de ódio e confrontação”, fazendo clara referência aos enfrentamentos da gestão anterior com o fujimorismo. O nome de PPK não foi mencionado, mas Vizcarra colocou foco na corrupção, dizendo que “se esforçaria por um país com Justiça forte e independente” e que exigiria “celeridade e rigor” em relação a casos de corrupção, como as acusações de que seu antecessor estaria envolvido no esquema de propinas da empreiteira brasileira Odebrecht. Ele afirmou ainda que o ministério será totalmente reformulado, com novas indicações a serem feitas nos próximos dias. Terminou com uma mensagem aos jovens, que foram maioria entre os que protestaram nas ruas contra a corrupção e contra os políticos, gritando “que todos vão embora”.

“O Peru já passou por momentos mais difíceis do que este. Peço que vocês não percam a esperança.” O ambiente dentro do Congresso era de entusiasmo. Em vários momentos, Vizcarra foi interrompido por aplausos. Mostrou-se mais informal e ameno que seu antecessor, sorriu e acenou para seus filhos e netos que estavam num dos balcões, o que motivou novas palmas. Depois, cumprimentou um por um os líderes dos partidos.

‘TRAIDOR DA PÁTRIA’

Antes da tomada de posse, porém, o líder do Congresso, Luis Galarreta, enfrentou uma pequena crise. Ao final da votação da carta de renúncia, o documento que formalizaria sua aceitação dizia que o suposto envolvimento de PPK com atividades ilícitas fazia dele um “traidor à pátria”. Quando soube disso, PPK se fez ouvir. Lançou pelas redes sociais uma mensagem dizendo que aquilo era “inaceitável” e que, se o documento final fosse ficar assim, ele iria “retirar a renúncia e submeter-se ao processo de vacância”.

Os representantes de seu partido intercederam, e o termo foi retirado do texto. Assim, o Parlamento acabou optando por uma solução mais ágil. Se no primeiro dia os principais representantes haviam dito que não aceitariam a renúncia, depois, em conversas com Galarreta, criou-se um consenso de que aceitar a renúncia encurtaria o processo de sucessão. PPK agora perde seu foro privilegiado e já está impedido de sair do país, o que demonstra a intenção do Ministério Público peruano de investigar a acusação de que suas empresas tenham recebido favores e dinheiro da Odebrecht em troca de concessões de obras quando ele exerceu cargos na gestão de Alejandro Toledo (2001-2006).

Contou para que o ambiente da transição fosse tranquilo a boa relação que Vizcarra tem com líderes dos principais partidos, mesmo os de oposição. Uma das primeiras a cumprimentá-lo foi Keiko Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori e líder do Força Popular —a maior bancada, com 59 deputados. “Este é o momento de estarmos unidos, desejamos êxito ao presidente nessa nova gestão que se inicia”, disse ela, em redes sociais. Os líderes dos esquerdistas Nuevo Perú e Frente Amplio também lhe desejaram sorte e ofereceram apoio. A primeira vice-presidente do país passa a ser agora Mercedes Araóz, que vinha desempenhando as funções de primeira-ministra (cargo que deve ter novo ocupante logo).