YAN BOECHAT
ARBIL, IRAQUE (FOLHAPRESS) – Menos de uma semana após tomar a cidade curda de Afrin, no norte da Síria, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, conquistou, ao menos de forma aparente, uma nova vitória em sua mais recente e renovada batalha contra o braço armado do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
Após a ameaça turca de agir militarmente para expulsar o grupo da região montanhosa de Sinjar, no extremo norte do Iraque, o PKK anunciou que retiraria suas tropas de forma unilateral, transferindo o controle da área para o governo central de Bagdá.
Desde o início do ano a Turquia iniciou uma campanha militar, com apoio de milícias árabes sírias contrárias ao regime do ditador Bashar al-Assad, para enfraquecer a presença do PKK no norte da Síria, em uma região conhecida como Rojava.
O grupo está em guerra com a Turquia há 40 anos lutando por mais autonomia dos curdos no leste do país. Cerca de 40 mil pessoas já morreram no conflito.
O PKK chegou a Sinjar em 2014 em uma operação militar coordenada pelos Estados Unidos na tentativa de coibir o avanço da facção terrorista Estado Islâmico na região. As montanhas do norte iraquiano concentram uma grande parte dos yazidis, um grupo étnico-religioso que se tornou alvo preferencial da milícia islâmica.
Estima-se que ao menos 4.000 pessoas tenham sido mortas em agosto de 2014 e ao menos 6.000 mulheres tenham sido feitas como escravas sexuais. Quase quatro anos depois, acredita-se que até 2.000 yazidis ainda possam estar nas mãos do Estado Islâmico.
Apesar de a decisão do PKK ter sido uma vitória da retórica belicista de Erdogan, a saída do grupo de Sinjar reduz as justificativas da Turquia para uma invasão ao norte do Iraque, como fez na Síria.
Erdogan afirmou nesta semana que pretende ampliar sua operação militar em todo o território curdo, de Afrin até a fronteira com o Iraque.
Uma ação militar no norte do Iraque facilitaria a estratégia da Turquia de impedir a cooperação entre curdos iraquianos e sírios.
Erdogan ainda precisa enfrentar um obstáculo maior em sua campanha contra os curdos no norte da Síria. Foram os guerrilheiros curdos, com apoio da aviação americana, que expulsaram o Estado Islâmico de Raqqa, a capital simbólica da facção terrorista.
Neste momento cerca de 2.000 soldados americanos estão no norte da Síria e, publicamente, os Estados Unidos prometem manter o apoio aos seus aliados curdos.
Como em quase tudo no Oriente Médio, há segundas intenções nos movimentos de todas as potências envolvidas na tragédia síria.
Apesar de atacar os curdos, Erdogan está mais preocupado com o avanço da influência iraniana na região e tenta impedir que o corredor estratégico ligando Teerã a Beirute se mantenha estável.
Com as ameaças renovadas do presidente turco em ampliar sua campanha militar, os curdos despejam suas esperanças na palavra dos Estados Unidos.
Se forem traídos, esta não será a primeira vez. Não à toa, o principal provérbio da região diz que os curdos só tem como verdadeiros amigos as montanhas que circundam seu território.