SILAS MARTÍ
NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) – Os problemas do Facebook estão longe do fim. Enquanto autoridades cobram explicações sobre o desvio de dados de milhões de pessoas, acionistas e usuários já movem processos contra a firma e alguns anunciantes deixam a plataforma.
Na ressaca do escândalo envolvendo a consultoria política Cambridge Analytica, que teve acesso a informações pessoais de clientes do Facebook para manipular a eleição presidencial americana de 2016 a favor de Donald Trump, pelo menos quatro ações contra a empresa foram iniciadas nos EUA no últimos dias.
Uma delas alega que diretores do Facebook tentaram “minimizar preocupações sobre o acesso a informações de usuários” ao insistir em que o grupo tinha “sistemas para detectar atividade suspeita”.
O documento diz ainda que a política de privacidade de usuários da plataforma era inadequada e que diretores da empresa sabiam que isso representava “um risco substancial para seus negócios”.
Acionistas também acusam os executivos da empresa, entre eles Mark Zuckerberg e Sheryl Sandberg, de terem vendido parte de suas ações para evitar perdas, configurando uso ilegal de informação privilegiada —o processo diz que até R$ 5 bilhões em papéis foram vendidos semanas antes do escândalo.
Outra ação movida por um grupo de usuários da plataforma exige reparação por terem seus dados pessoais vazados para fins indevidos —executivos do Facebook argumentam, em sua defesa, que foram enganados por um pesquisador que repassou essas informações à consultoria sem permissão da rede social.
Desde o início do escândalo envolvendo a Cambridge Analytica, o Facebook perdeu o equivalente a mais de R$ 160 bilhões em valor de mercado e sofreu dias seguidos de recuos na Bolsa de Nova York, amargando a pior retração em quatro anos Nesta sexta (23), as ações caíram 3%.
ANUNCIANTES
Em paralelo à maior crise de imagem de sua história, o Facebook ainda enfrenta uma perda de anunciantes, que pode ter um impacto catastrófico sobre as suas contas —98% do faturamento da empresa vem de anúncios.
Nos últimos dias, a Mozilla, a empresa por trás do navegador de internet, a Sonos, uma fabricante de caixas de som inteligentes, e o banco alemão Commerzbank deixaram de usar a plataforma em suas estratégias publicitárias.
Executivos do Mozilla disseram que as mudanças nos controles de segurança anunciadas pelo presidente e cofundador do Facebook, Mark Zuckerberg, apontam para um caminho certo, mas que só voltariam a anunciar na rede social quando ela “adotar atitudes mais fortes com relação ao compartilhamento dos dados de seus usuários”.
DESCONFIANÇA
O Commerzbank, a segunda maior instituição financeira da Alemanha, disse que estava suspendendo anúncios por desconfiar de mecanismos de segurança da firma.
Enquanto isso, a Sonos decidiu fazer só uma pausa de uma semana em anúncios no Facebook, mas preocupou o mercado ao estender essa mesma medida em relação ao Instagram, outra firma do grupo de Zuckerberg, e também ao Google e ao Twitter.