Um pedaço desconhecido da história de Curitiba acaba de ser desenterrado na Praça Tiradentes. Uma calçada formada por grandes blocos de pedra foi descoberta por uma equipe de arqueólogos da Universidade Federal do Paraná (UFPR) na terça-feira. A calçada, que pode ser do século 19 ou 18, estava a quase um metro de profundidade, e segue do centro da praça em direção à rua. “O trabalho está apenas na fase inicial, mas algumas coisas já estão aparecendo”, contou o professor Igor Chmyz, do Departamento de Arqueologia da UFPR.

As escavações na Praça Tiradentes acontecem paralelamente aos trabalhos de revitalização do local que a Prefeitura de Curitiba iniciou antes do Carnaval. A revitalziação vai custar R$ 1,1 milhão, que inclui nova iluminação especial e novo piso. A praça é o núcleo central da formação da cidade. Foi oficialmente denominada Tiradentes em 1889. As obras devem acabar em três meses.

“A Praça Tiradentes não é muito documentada em termos de construções que já foram erguidas lá, e por isso a pesquisa está acontecendo junto com as obras”, continua. O caminho de pedras pode ser de uma antiga calçada, mas somente análises mais profundas poderão confirmar a finalidade dela, e em que época foi constuída.
Um dos objetivos das escavações é encontrar vestígios que remeta ao século 17, como os vestígios do Pelourinho. “De acordo com dados históricos, sabemos que na Praça Tiradentes havia uma capela construída em forma de palhoça de pau-a-pique, mas não sabemos em que local ela estava porque o material já está decomposto. Mas sempre há uma possibilidade de encontrar algum objeto pessoal deixado no chão. Também acreditamos encontrar vestígios que remetam a populações indígenas que antecederam os portugueses e espanhóis”, explicou Chmyz.

Ossos — Outro achado da equipe do professor Chmyz foi um depósito de ossos de animais, provavelmente do que foi um açougue do século 19. Todos os materias são recolhidos e catalogados. Chmyz conta que praças e avenidas da cidade escondem importantes referências culturais e arquitetônicas. Nas mãos do professor e de sua equipe, o subsolo da cidade se transforma numa enciclopédia para pesquisa.
São alicerces de edificações, resíduos de calçamento, canalizações, lixo, objetos e utensílios domésticos que revelam a função dos espaços, aspectos da economia e o desenvolvimento cultural dos curitibanos. “Esse espaço é muito importante porque é o início de Curitiba. Tem que ser olhado com muito cuidado e muito carinho”, diz o professor.

Licitação — Durante a elaboração do projeto de revitalização da Praça Tiradentes, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente fez uma reunião para a qual foram convidados representantes da UFPR, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e da Secretaria de Estado da Cultura. Em seguida, a Prefeitura licitou o trabalho de pesquisa arqueológica no qual venceu a Fundação da UFPR para o Progresso da Ciência, da Tecnologia e da Cultura.

Com o achado, a Prefeitura também deve realizar um estudo para definir o que será feito do calçamento histórico. A maior intervenção no local será no piso da praça, hoje deteriorado, principalmente em função das raízes expostas das árvores. O projeto desenvolvido pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente permitirá a recuperação completa do piso, sem a necessidade de retirar as árvores. O novo piso, com base de concreto, ficará elevado numa altura média de cinquenta centímetros.