É mais ou menos assim: quando todos acham que a música sertaneja já saturou, vem um novo tempero para realçar o sabor e garantir sua permanência entre os gêneros mais consumidos do Brasil. A especiaria recém-lançada é a música sertaneja feita por gente de cidade grande, como é o caso de Fabrício e Fabian, que já são denominados Urbanejos, uma brincadeira com os sertanejos dos grandes centros urbanos. Eles trazem o gostinho das aventuras de rodeios e dos mocinhos dos filmes de bang-bang para o público fiel do ritmo.
 
E é esse clima que as pessoas buscam ao comprar os CDs de duplas sertanejas. Segundo a ABPD – Associação Brasileira de Produtores de Discos, no ano de 2005 cinco disco estavam na lista TOP 20 de discos mais vendidos, entre eles Leonardo, Zezé Di Camargo e Luciano e Bruno e Marrone. O mercado brasileiro de música movimentou em 2004 cerca de R$ 706 milhões, valores reportados pelas maiores companhias fonográficas operantes no país à ABPD, o que representa um crescimento (em valores) de 17% em comparação com o ano de 2003.
 
Para competir no segmento, a dupla carioca remexeu nos baús da música brasileira e apresenta no segundo disco Felicidade, lançado em janeiro de 2006, os clássicos Chuá Chuá, toada de 1925 de autoria dos gaúchos Pedro de Sá Pereira e Ary Pavão e Noite Cheia de Estrelas, tango-canção que estourou com o cantor Vicente Celestino na década de 30. A novidade é que, com o êxito da novela América, da Rede Globo, a influência norte-americana tende a se intensificar ainda mais e promete colocar o country brasileiro entre os principais subgêneros da música sertaneja. Como o country e o sertanejo são parecidos:  o cavalo que o caipira e o caubói usam é igual. A roupa, a dança e a música são parecidas, então é natural que suas culturas possam convergir.
 

Aliás, por conta dessa convergência, muitas duplas têm mesclado números countries aos tradicionais temas românticos de seu repertório, é o caso de Fabricio e Fabian. Enquanto eles se apresentam, um corpo de balé formado por seis pessoas faz coreografias. Uma das principais características da dupla é a de sempre investir em ritmos dançantes e para cima, sem, no entanto deixar de lado o romantismo habitual no sertanejo moderno. Como forma de ressaltar a vertente sacudida de seu repertório, eles usam e abusam dos instrumentos de cordas, como violão, guitarra e violino e instrumentos de sopro como trombone e trompete, que os irmãos tocam e é o ponto alto dos shows.

 

Os shows das duplas sertanejas não ficam restritos aos rodeios e festas nas cidades do interior do Brasil. Algumas cidades e regiões são fortes consumidores desse ritmo, como é o caso de Recife e Caruaru, em Pernambuco, Minas Gerais e Brasília. Nessse lugares, as vendas de discos também são surpreendentes. As pessoas compram os discos para ouvir em casa, apresentar a música numa festa de família, aprender a dançar e isso aproxima as pessoas. De acordo com Fabrício, se por um lado a música sertaneja acabou focada em um segmento mais pop, através das baladas românticas, por outro, graças a uma tendência natural do povo brasileiro, gerou um movimento em torno do som da viola, que trouxe à tona, nas grandes cidades, o bailão e o arrasta-pé. “Uma surgiu em função do sucesso da outra”, acredita, admitindo que o sertanejo não é modismo. “Trata-se de um estilo de vida”, defende Fabian, lembrando que, não por acaso, os adeptos do gênero gostam de ir para festas e rodeios trajados de caubóis. “Isso não vai acabar. É uma coisa popular, vem do gosto e sentimento das pessoas do interior que invadiram as cidades”, avalia.