Eu só tomo consciência de mim mesmo por meio do pensamento. Os animais porque não têm consciência de si mesmos, não têm percepção do eu que eles são. Assim, o pensamento é a causa de meu ser, manifestação de umorganismo vivo, reação intelectual a partir da suposta plenitude dasfaculdades mentais.


Não obstante, se o pensamento é apenas resultado de nossas reações rgânicas, é lógico que ele padece das mesmas limitações do restante do orpo. Assim, ele é frágil como o próprio corpo. Contudo, importa reconhecer que, no gozo de suas capacidades, o pensamento, pela suas propriedades perceptivas constitui as coisas, porque as ultrapassa aopercebê-las.


Esta convivência com percepções e acontecimentos constrói um mundo imbólico de conceitos e disposições que formam o mundo de nossa subjetividade. Porém, há um mundo objetivo a condicioná-la. Assim, ao abrir os olhos para o mundo, o ser humano se reconhece como produto de condições exteriores que delimitam a existência de seu ser, tornando-o frágil.


Esses condicionamentos são a história, a cultura, o momento, alguns dos fatores que determinarão as nossas maneiras de ser. Dessa forma, mesmo que seja nossa subjetividade que condiciona nossa percepção do mundo objetivo, desde o início é este que prioriza o perfil de nossas vivências.


Vemos então que esta aparente ambigüidade é uma condição que temos de ultrapassar, se quisermos apreender a verdadeira natureza disso que nos conflita. Objetivo e subjetivo, dependentes um do outro, só poderão ser compreendidos pela superação da antinomia em termos de mútua exclusão, no fato mesmo de sua interação.


É neste momento que surge a idéia da existência de um algo mais, um “plus” como fonte e superação desse conflito. Este suposto é substrato, relação, origem, algo em-si/para-si, um englobante que sustenta as coisas, como delas mesmo fundamento, fonte de suas consistências. É a realidade se constituindo como Presença Estática, manifestação pura de algo virtual, relação fugidia de contrários.


Se a presença objetiva do mundo e de meu eu são para mim evanescentes, pela ameaça constante de sua sucumbência, sua sustentação só pode estar numa anterioridade, fonte tanto de meu pensamento como da existência do mundo exterior. Esta experiência de presença vamos chamá-la de espírito, que por nos ser imanente, é também transcendente (Espírito), por ser a origem também do universo exterior.


Pelas suas características essenciais de criatividade, racionalidade, sentimento e liberdade, faz-nos o Espírito sermos o que somos de forma plena e original, capacitando-nos para a nossa identificação separada do ambiente em que habitamos.É a partir do reconhecimento desta intuição que nos vemos tomados por uma inspiração reveladora, por nos sentirmos morada do Espírito, que nos


transcende e nos indica os caminhos de afirmação de nosso próprio eu. Pelo espírito eu me torno presença do finito no infinito. Pelo Espírito eu sou eterno em minha transformação, superando a brevidade da vida corporal.Assim, o eu visto como integração do objetivo com o subjetivo é o laçotriádico que fundamenta toda a realidade.


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Antônio Celso Mendes é professor da PUC-PR