SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Combinar pesquisa acadêmica de ponta e chance de rápido crescimento no mercado é o principal desafio das startups que buscam um espaço nas incubadoras de universidades.


Mesmo que nesses ambientes sejam comuns aportes de instituições públicas como a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), ganha a vaga quem consegue mostrar que a empresa pode gerar lucro e despertar interesse no setor privado, diz Sérgio Risola, diretor do Cietec, incubadora da USP (Universidade de São Paulo) que abriga 107 empresas.


“Buscamos empreendedores acadêmicos capazes de trazer inovação para o mercado e com um plano de negócio já montado, que precisam do conhecimento que a universidade oferece”, afirma.


A incubadora da USP foi criada há 20 anos, inspirada em projetos semelhantes de universidades americanas como Stanford, na Califórnia, ou o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), na costa leste dos Estados Unidos.


O doutor em engenharia Raphael Menezes, 33, incubou no Cietec em 2018 a Sonata Solutions, que investe em tecnologia de saúde para personalizar dosagens de remédios de pacientes com câncer, diminuindo efeitos colaterais.


Para compensar a pouca experiência no setor privado, Raphael buscou profissionais que cuidassem do financeiro, do marketing e que conhecessem bem as operadoras de saúde.


“Vamos ficar três anos e amadurecer a empresa. As normas no setor são rígidas, precisamos de muito capital e temos que levar um produto redondo ao mercado.”


A empresa já recebeu recursos do programa Pipe/Fapesp, que apoia a pesquisa científica e tecnológica em micro, pequenas e médias empresas paulistas.


Cerca de um terço das startups que se inscrevem no programa é aprovado, diz Sérgio Queiroz, gestor do Pipe.


“Um bom projeto precisa de metodologia sólida e uma equipe que mostra ser capaz de criar uma solução melhor que as existentes. Quem não passa, em geral, tem pouca experiência ou a pessoa nem consegue explicar o que há de novo na sua proposta”, diz.


O maior desafio desses pesquisadores que querem empreender é desenvolver boa visão de negócio, afirma Mariana Zanatta, gerente da Incamp (Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp).


“Passamos a oferecer palestras sobre finanças, vendas e marketing, em parceria com o Sebrae, além de mentoria e encontros com investidores e empresas incubadas”, diz.


A meta do programa, segundo Mariana, é que a universidade vá além de suas funções tradicionais de ensino e pesquisa e gere emprego, renda e tecnologia.


A doutora em biologia molecular Soraia El Khatib, 48, mira o bilionário mercado de cosméticos, que movimentou 200 bilhões de euros (R$ 874 bilhões) em 2018, segundo dados da L’Oréal.


Sua empresa, S Cosméticos do Bem, termina no final de 2019 o terceiro e último ano de incubação na Unicamp após desenvolver produtos como um repelente de artemísia, sustentável e de baixa toxicidade.


“Temos o know-how para desenvolver a tecnologia, mas o custo é alto. Estamos conversando com gigantes do setor farmacêutico para colocar o produto no mercado, primeiro distribuindo para clínicas e dermatologistas”, afirma.


Seu maior problema foi perder bons pesquisadores, frustrados com o ambiente incerto do empreendedorismo.


“Nem todo mundo tem o preparo emocional necessário. É preciso convencer as pessoas o tempo todo que podemos sim chegar a algum lugar. Muitos desistem”, diz.


Encontrar um time resiliente e que trabalhe bem no dia a dia é a parte mais difícil, mas mais importante para as startups que querem ganhar mercado depois da incubação, afirma Risola, do Cietec.


“Aqui, temos mão de obra farta e capacitada. E o que o empreendedor precisa é de gente boa, que fica mesmo nas fases difíceis e sabe trabalhar no risco.”