Em uma rua tranquila de Curitiba, em meio a bares badalados da cidade, o trabalho realizado em uma casa discreta faz  toda a diferença no cinema nacional brasileiro e até mesmo no internacional. Ali é feita a pós-produção de muitos filmes premiados. Entre eles, Tropa de Elite 1 e 2, Olga, Dois Filhos de Francisco, Ensaio sobre a Cegueira, entre tantos outros títulos famosos. É neste lugar que vive a Nina, uma cocker de seis anos. Na verdade, ela não vive ali. Passa boa parte do tempo no estúdio que é de seu dono, um sound designer que estreou em um longa-metragem no filme Cidade de Deus, do diretor Fernando Meirelles.

Passar o dia ao lado de seu animal de estimação ainda é uma realidade muito distante de nós trabalhadores formais. Tive a oportunidade de conhecer um privilegiado. Dono do próprio negócio, é claro. Nina está a seu lado no trabalho nos últimos quatro anos. São cerca de no mínimo dez horas por dia. Sem contar as horas extras. A jornada é interrompida pelo menos oito vezes. Afinal de contas, a Nina precisa passear, correr atrás do gato, cheirar a grama, fazer um xixi e depois voltar ao trabalho. 

Ela por sua vez não se importa com pessoal que circula no estúdio, com o entra e sai de funcionários por lá. Está sempre na dela. Espalhada no sofá ou embaixo da mesa de som, enquanto toda equipe se empenha em criar a sonorização dos filmes. Nem mesmo o barulho dos tiros de Tropa de Elite, nem aquela voz sexy do galã Wagner Moura tiram o sossego ou despertam o interesse de Nina. Só tem uma coisa que a deixa louca. O barulho do sorveteiro. Este ela não deixa passar. Não dá para perder o picolé de doce leite. Sabor preferido.

A dupla, quase inseparável, vai dar um tempinho na relação nestes dias. O dono da Nina viaja, em breve, para Los Angeles. Vai assistir de pertinho a cerimônia do Golden Reel Awards de olho na categoria melhor edição de som em língua estrangeira, que tem entre os concorrentes Tropa de Elite 2. O prêmio concedido pela Motion Pictures Sound Editors só perde em prestígio para o Oscar. Pela primeira vez uma equipe 100% brasileira está no páreo, que inclui entre os filmes A Pele que Habito, de Almodóvar. Mas o dono da Nina já ganhou o prêmio quando integrava a equipe vencedora na mesma categoria com o filme Cidade de Deus. Portanto, ela já está pra lá de acostumada com as ausências esporádicas e com as tantas estatuetas que divide no estúdio.

Com mais um prêmio ou não, a Nina só quer que este período passe rapidinho e ela possa voltar à habitual rotina. O dia a dia destes dois está longe de ser comparado a um filme romântico. Existe um certo empenho para mantê-la ali sempre pertinho. Mas a afinidade e o carinho que vi entre eles é um verdadeiro amor de cinema. Com doce de leite, no lugar de pipoca, e sem precisar de um final para ser uma história feliz.

The End