Muito já se falou da equoterapia, terapia com cavalos, e seus benefícios para quem tem paralisia cerebral e outras deficiências. Melhora a coordenação, equilíbrio, aumenta a consciência corporal e tantos outros fatores importantes para a saúde. Hoje eu resolvi abordar a cachorroterapia. Sem sessões marcadas. Mas sobre a convivência quase diária de uma poodle e uma menina PC.

Pela manhã, a interatividade começa com uma bela lambida. Aliás, várias. Nem adianta pedir. “Não deixa. Vira a cara para o lado!”, é em vão. Mas que nada, bom dia a gente tem que dar com muita intensidade. Algo para ser lembrado o dia todo. No café da manhã, lá estão as duas lado a lado. Caiu por acaso um pedacinho de pão aqui ou ali, já tem limpeza garantida. Hora da escola. Separação temporária. Melhor lugar para esperar a amiga chegar é na própria cama dela. De preferência desarrumada, em cima do edredon.

O resto do dia a companhia traz boas diversões. O agito dos latidos com qualquer barulho, principalmente quando o interfone toca e é dia de pizza. Os assaltos à lata de lixo com embalagens de carne, frango e outras coisas boas de lamber. Os olhos atentos veem tudo, mas nada de denunciar as artes da pequena. A única coisa que não pode mesmo nesta história é brigar com o bichinho. Mesmo quando ele apronta. Ouve-se uma sequência de sonoros nãos, que quer dizer não brigue, pois aqui ela reina.

A cachorrinha não passou por nenhum treinamento para ser companheira de alguém com paralisia. Ela convive desde filhote, obviamente, sem diferenciar se existe ou não qualquer tipo de deficiência. Faz parte da vida dela. Qualquer outro estranho com ou sem qualquer problema físico ou mental ela com certeza irá estranhar.

Eu não tenho nenhuma credencial para avaliar tecnicamente os benefícios terapêuticos da convivência entre cães e deficientes. Mas com certeza esta amizade traz uma imensa alegria, quebra a monotonia do dia e tenho plena consciência que estimula e, muito, o músculo do coração. Ele bate mais forte quando a poodle, apelidada de Cuca, chega. E lá se vão mais várias lambidas! O vermífugo está em dia e os anticorpos da Luca, a mais beijada de todas, em alta. Pode lamber a boca à vontade! Porque beijos de amor devem ser intensos e prolongados.