Hoje publico texto do zootecnista Paulo Parreira. Lembre-se. Pense muito antes de decidir por ter um animal em casa. Eles, ainda bem, tem vivido cada vez mais. Quando fizer esta escolha definitiva não se esqueça das centenas de bichinhos abandonados que aguardam por adoção.

A cena é muito comum e de certa forma comovente: os pais entram com o filho pequeno em uma loja de animais. A criança não se contém, pula, fala alto, mexe em tudo, pergunta tudo… Olhos vivos e atentos, buscando aquilo que a tempos pede para os pais e somente agora, que não usa mais chupeta, estes concordaram em lhe dar – um cãozinho.

A busca continua. Enquanto os pais conversam, entretidos com o vendedor da loja, a criança é mais rápida. Na vitrine da loja encontra algo muito interessante, e algo mágico acontece – o encontro. De um lado daquilo que mais parece um aquário sem água está o filhote – correndo atrás do próprio rabo, latindo, todo molhado, pois acabou de tombar o potinho de água. Do outro o menino, imóvel, mãozinhas espalmadas no vidro, parece não acreditar naquilo que vê.

Passam-se alguns segundos e o cãozinho finalmente percebe uma presença diferente, marcante. Os dois se olham – cumplicidade total. Gritos, socos no vidro – “Pai, Mãe, achei! Achei meu cachorrinho!”. Nasce então uma nova e duradoura amizade. Será?

Esta cena, que parece tirada dos filmes, acontece todos os dias em pet shops, casas agropecuárias, feiras, com animais comprados ou adotados, no Brasil e no exterior. Enfim, a simples imagem de uma criança abraçada com um filhote de cachorro ou gato, desperta em nós sentimentos de ternura e afeto. Pena que nem sempre o final é feliz, principalmente para o animal. Ele será abandonado quando as dificuldades e responsabilidades de criá-lo tornarem-se grandes e pesadas demais.

O processo de escolha de um animal, cão, gato ou peixe, deve ser precedido pelo processo de perceber se podemos ter este animal ou não. Saber se podemos ter é muito diferente e mais importante do que definir se este animal será de raça ou não, comprado ou adotado, se será chamado de Totó ou Rex.

Quantos de nós, quantas pessoas que conhecemos, foram criteriosas e racionais, pensaram duas vezes antes de trazer para dentro de casa um cão ou gato? Um carnívoro que viverá pelo menos 10 anos e que será totalmente dependente das nossas boas ou más ações. O ideal é que pensemos muito antes de adotar ou comprar um animal de estimação, e algumas perguntas podem balizar o processo decisório:

– Tenho tempo e dinheiro para cuidar de um animal de estimação?

– Meu estilo de vida comporta esta responsabilidade?

– Todos em casa apóiam e querem ter este animal?

– Quando viajar, o que farei com ele?

– Tenho espaço em casa ou no meu apartamento para o animal?

– Estou adquirindo (comprando ou adotando) este animal para ensinar responsabilidades para o meu filho? Ou a responsabilidade pelo bem estar deste cão ou gato será da família toda?

Posso ter a raça ou o porte que desejo? Conheço a raça desejada? Sei suas características comportamentais?

Obviamente que estas questões são apenas exemplos de um ponto de partida, de um caminho que não aceita atalhos. As aquisições impensadas ou impulsivas são a fonte de muitos problemas que nos deparamos diariamente na mídia: acidentes e ataques de cães, superpopulação de animais de rua, maus-tratos, animais abandonados, enfim, problemas comuns a todos, que nos afetam enquanto sociedade, mas que tiveram inicio muitas vezes em atitudes impensadas de poucos.

 Os animais são fonte de alegria, bem-estar. A companhia de um cão ou gato pode ser fonte inestimável de afeto e carinho. Desde que o animal faça realmente parte de um projeto de vida, e não somente válvula de escape para a realização de um sonho de consumo.

 *Paulo Parreira é zootecnista e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR)