Usado como cão policial, o pit bull foi destaque na imprensa durante o confronto entre professores estaduais e policiais ocorrido em abril em frente à Assembleia Legislativa do Paraná. Um repórter cinematográfico da Band TV foi atacado por um pit bull e ficou gravemente ferido.. O zootecnista, especialista em comportamento animal e professor de Medicina Veterinária da PUCPR, Paulo Parreira, concedeu entrevista para a coluna para esclarecer alguns pontos sobre cães policiais, do pastor alemão ao pit bull.

 

 “Cães não são máquinas e eventos extremos podem causar interferências graves no processo de obediência e controle”

 

– De onde veio o uso policial da raça pastor alemão? 

Paulo Parreira: O uso do pastor alemão em forças de segurança, já ocorre há muitos anos. É uma raça que foi adaptada e se adaptou muito bem à esta função, pois tem um potencial de trabalho enorme, vigor físico e grande capacidade de aprendizagem.

– Quais os cuidados para utilizar a raça pit bull para fins policiais? Ela tem o mesmo comportamento que outras raças de grande porte?

Paulo Parreira: Os cuidados devem ser os mesmos das outras raças (seleção genética, criação, socialização, treinamento e manutenção).  As reações de qualquer animal dependem da sua criação, experiência anterior em situações semelhantes, da pessoa que está junto a ele e da intensidade do evento em si. Animais treinados/adestrados são expostos a diferentes situações durante seu treino, simulando assim o que pode ocorrer em casos reais. A imprevisibilidade nas reações de animais treinados é menor do que em cães não treinados.

– Em situações extremas, o cão pode deixar de atender aos comandos?

Paulo Parreira: Em casos extremos, podem sim deixar de atender a comandos por alguns instantes (cães não são máquinas e eventos extremos podem causar interferências graves no processo de obediência e controle).

– Qual a diferença de uma mordida de um pastor alemão para um pit bull?

Paulo Parreira: As duas mordidas são muito fortes e a gravidade depende mais do local mordido do que da força. Em relação ao “tipo” de mordida, tudo dependerá da situação que levou o animal a morder, da pessoa que foi mordida (conhecida ou não), estado de saúde física e mental do animal e condição de criação do animal.

 pitbull

 – Qual o perfil da raça pit bull? Aconselha o uso como cão de guarda. Quais os cuidados que o tutor deve ter em relação a esta raça?

Paulo Parreira: Raça muito forte, vivaz e ativa. Recomendo o uso de cães, de qualquer raça, como cão de guarda somente em lares e com pessoas que tenham um mínimo de conhecimento de criação de cães. Se um cão de guarda é criado por alguém despreparado, sem condições de impor limites (sem uso de violência), os riscos de acidentes graves são imensos. A socialização é fundamental para qualquer cão, mas no caso do pit bull é ainda mais importante. Deve ser criado em um ambiente que propicie o bom convívio com outras espécies, cães e pessoas de diferentes idades. Atividades físicas regulares são fundamentais também. Desta forma, teremos um animal equilibrado e socializado, pronto para o convívio em sociedade.

– Acredita que cães são reflexos de sua criação e todos podem morder dependendo da situação?

Paulo Parreira:  Sim. Brinco que qualquer animal com dente, inclusive nós humanos, podemos morder dependendo da situação.