Fernando Menezes, diretor da Schär no Brasil, companhia internacional que conta com escritório em Curitiba, concedeu entrevista exclusiva para a People S/A. Confira:

 

PEOPLE S/A – Você vem da área automotiva, trabalhando na área de comunicação da Nissan e da Renault. Como foi começar a trabalhar desde o início da chegada da Schär no país, sendo um produto bem diferente do que você vinha trabalhando. Como foi vislumbrar a chegada da Schär no Brasil?

FM – O fato de nunca ter trabalhado na indústria de alimentos foi uma vantagem, pois criamos um modelo de negócio completamente novo, que visa a acessibilidade aos produtos para o consumidor final.

Usamos nossa experiência como gestores de grandes empresas para construir um conceito diferenciado de negócio, partindo do preço ideal para o consumidor. Assim,  desenvolvemos um modelo sem intermediários, com uma estrutura enxuta, procurando transferir valor ao consumidor final. Apesar do algo grau de complexidade que este modelo demanda, ainda hoje conseguimos seguir nesta mesma receita e atendemos todos nossos varejistas do país – mais de 3.500 pontos de venda no Brasil – sem distribuidores ou representantes. Com este modelo conseguimos trazer os melhores produtos sem glúten para o Brasil a preços competitivos, muitas vezes abaixo de similares nacionais e sempre abaixo de outras marcas importadas. Lembrando que são produtos certificados, com alta tecnologia de produção, excelente proposta nutricional.

Quando participamos de feiras e eventos ligados à indústria, recebemos inúmeras visitas de representantes, distribuidores, vendedores querendo representar a marca. Quando explicamos como trabalhamos a reação é sempre a mesma; “inacreditável! Como vocês conseguem!”.

Estou convicto que se tivesse vindo da indústria de alimentos hoje os preços da Schär estariam,no mínimo, 40% mais caros para o consumidor.

PEOPLE S/A –A Schär chegou no Brasil em 2012 com uma linha de produtos pequena. Hoje, 4 anos após o início das operações no Brasil nota-se o crescimento do mix de produtos da empresa. Como está o mercado sem glúten no Brasil? E o posicionamento da Schär nesse mercado?

FM – Iniciamos a operação com 16 produtos e hoje esse número dobrou, são 32 itens e tem mais novidade chegando em breve. Nossa ideia é suprir todas as necessidades de quem precisa ou opta por seguir uma alimentação sem glúten, do café da manhã ao jantar, sem ter que abrir mão do sabor, do aroma e da textura de alimentos tradicionais. A linha Schar tem mais de 100 produtos na Europa, e vamos continuar ampliando a oferta por aqui também.

Hoje a Schar está presente em mais de 60 países, é líder mundial e líder local na grande parte destes mercados, assim como no Brasil, onde temos visto um cenário em que o número de diagnósticos de doenças glúten-relacionadas aumenta com a disseminação da informação. Sim,há muita gente fazendo dieta sem glúten para emagrecer, mas nosso foco central é o consumidor que realmente precisa de uma alimentação segura e saudável. Além do celíaco, que representa cerca de 1% a 2% da população e cujo diagnóstico é relativamente simples, existem pessoas com sensibilidade ao glúten. Pesquisas em mercados maduros mostram que este número pode chegar a 15% da população, entretanto o diagnóstico de pessoas sensíveis ao glúten não é simples. Há muita pesquisa sendo feita em diversos países, inclusive por equipes médicas do Instituto DrSchar, uma referência em estudos glúten-relacionados.

Olhando para o mercado de intolerâncias em geral, principalmente glúten e lactose, ele vem crescendo em média 20% ao ano segundo o instituto de pesquisas Euromonitor. Só para se ter uma ideia, em 2006, 10 anos atrás, este mercado era praticamente do mesmo tamanho do mercado de produtos orgânicos, e hoje é mais que o dobro. O número de diagnósticos vem aumentando, porém ainda abaixo do que deveria, já que no Brasil não há políticas públicas que visem identificar e educar os pacientes de intolerâncias alimentares no início da enfermidade. O tratamento destas pessoas é simples, eficiente e acessível: basta uma alimentação correta, sem a necessidade de medicamentos de uso contínuo ou tratamentos caros. O sistema de saúde do país poderia economizar muito se houvesse uma política de saúde que tratasse o tema com seriedade

PEOPLE S/A – Muitos consumidores desconhecem a importância de uma dieta sem glúten, associando a um modismo. Mas a realidade é bem diferente, envolve uma questão séria de saúde. Quem são os clientes da Schär e como está o crescimento das vendas nesse segmento

FM – Ainda há muita desinformação sobre a questão do Glúten. Para um celíaco, comer glúten é como comer pequenos cacos de vidro, ou ainda como ingerir veneno. O organismo destas pessoas não reconhece a proteína e desencadeia um processo de auto-destruição das microvilosidades do intestino, causando uma série de complicações. Comer fora de casa para um celíaco é risco enorme, pois restaurantes por aqui ainda não educam seus funcionários sobre a questão. Em qualquer país desenvolvido a coisa é levada a sério, e cardápios já informam sobre a utilização ou não de ingredientes com glúten. Além dos celíacos, estudos estimam que até 15% da população tenha algum tipo de sensibilidade ao glúten. No tratamento das Síndrome do Intestino Irritável, a grande descoberta da ciência é o tratamento pela alimentação por meio de uma dieta não fermentativa, que exclui alguns alimentos durante 8 semanas ou nos períodos de crise, e o trigo/glúten é um dos itens da lista a serem cortados. Além disso já está comprovado que crianças autistas melhoram muito sua interação social com uma dieta sem glúten.Atletas de alta performance também têm realizado dietas com eliminação do glúten por períodos de treinamento intenso e pré-prova. Inúmeros estudos estão em andamento atualmente.

A grande controvérsia está relacionada ao emagrecimento. Vários livros foram publicados sobre o tema e afirmando que a simples retirada do glúten da dieta emagrece. A perda de peso está ligada à ingestão de calorias, e não necessariamente ao glúten. Se o indivíduo consumir produtos calóricos, com ou sem glúten, vai ganhar peso. A questão está na qualidade do alimento que se ingere. Como em toda indústria, no universo sem glúten também existem produtos bons e produtos ruins. A Schar, por exemplo não utiliza transgênicos, conservantes ou corantes artificiais em nenhum produto. A qualidade nutricional é que faz a diferença. Nosso pão branco fatiado mais simples contém mais fibras do que a maioria dos pães integrais vendidos no mercado. Tem muito produto sem glúten carregado de conservantes, aromatizantes, gordura hidrogenada, portanto não é só retirando o glúten que se ganha saúde, minha dica é sempre ler o rótulo.

 PEOPLE S/A –Quais os objetivos da Schär para os próximos anos em termos de Brasil? Qual a estratégia da empresa?

FM – Nossos principais objetivos estão ligados à cobertura geográfica e ajuste de mix. Já fornecemos para 80% das grandes redes de varejo, mas no Brasil as redes regionais são muito importantes. Nosso foco está em ampliar a presença em mercados onde ainda a disponibilidade de produtos não está completa, como no Nordeste. E isso passa por uma conscientização do próprio varejista, que precisa entender a importância de oferecer esta categoria de produtos ao consumidor.

Além disso estamos revisando nosso mix de produtos, buscando oferecer cada vez mais produtos relevantes no dia-a-dia dos consumidores, a preços competitivos.

PEOPLE S/A –2016 está sendo um ano complicado para a economia brasileira como um todo. Como os produtos da Schär são importados, qual a expectativa de crescimento para este segundo semestre?

FM – Sofremos muito no ano passo, com o Euro saindo de R$ 3,60 para R$ 4,70, e logicamente não podemos simplesmente repassar isso para o consumidor. Implantamos uma estratégia de hedging que nos permitiu segurar os preços. Alguma coisa teve que ser repassada em forma de aumento, mas dentro da média da inflação, nada que impactasse na competitividade dos produtos da marca e acessibilidade, nossa grande bandeira.

Creio que o enfraquecimento da economia tenha atingido o fundo do poço. Tenho conversado com muitos varejistas e a sensação é a mesma, não tem como piorar mais. Espero que a economia volte a crescer rapidamente que voltemos a poder planejar. Esse é o maior desafio de empreender no Brasil, a falta de previsibilidade.

 PEOPLE S/A –Quais as novidades que a Schär está trazendo para o Brasil para os próximos meses?

FM – Realizamos anualmente uma pesquisa com consumidores para entender do quê mais sentem falta. Com base nesta pesquisa, identificamos alguns itens que são prioritários para os consumidores e que ainda não oferecemos no Brasil. Como a Schär tem foco total no  mercado e nos nossos consumidores, mantemos um ritmo importante de inovação e desenvolvimento de produtos que nos permite ter novidades constantes, como o BiscottoAll´Avena lançado no início deste ano, que permite aos consumidores que seguem uma dieta sem glúten incluir novamente a aveia em seu cardápio.

Na última pesquisa vimos um aumento significativo de pedidos de produtos focados em conveniência, por exemplo.

Mesmo com todos os desafios logísticos, estamos trabalhando para oferecer esta nova categoria de produtos aos nossos consumidores brasileiros ainda em 2016.

PEOPLE S/A – Para os próximos anos, podemos contar com uma estrutura fabril da Schär no Brasil?

FM – Para justificar um investimento deste porte, o mercado ainda tem que crescer muito. Um dos pilares da diferenciação dos produtos Schär – além do sabor, segurança e excelentes valores nutricionais – é a tecnologia, que nos permite oferecer produtos sem conservantes com confortáveis prazos de validade, por exemplo. Ou que nos permite ter produtos sem necessidade de congelamento graças à tecnologia de produção. Por isso, a instalação de uma unidade produtiva Schär exige um investimento significativo. E um dos maiores impactos da crise em nosso plano de negócios fui justamente a necessidade de revisar investimentos e reduzir custos. Como comentei anteriormente,  a falta de visibilidade econômica prejudica o empreendedorismo no Brasil, pois investimentos de longo prazo exigem algum nível de estabilidade. Contudo, ainda tenho esperança de recuperação rápida da economia, que nos permitirá, ao menos, retomar este ponto em nossa agenda.

 

Crédito da foto: Divulgação
Edição: Rafaela Salomon