Por Paula Batista

Além das piadas naturais sobre o Lula e a dona Marisa, mesmo que isso represente só 3% das 5 horas de depoimento desta semana, eu aqui parei para pensar o quanto a nossa sociedade é machista pra caramba.

Para um monte de gente, a dona Marisa não era capaz de ter cotas de investimento (como um consórcio, por exemplo) que possibilitasse a compra de um imóvel: simples, duplex, triplex. Mesmo que tenha um documento dizendo ser dela a propriedade das cotas (não do apartamento triplex).

A dona Marisa, por ser mulher do Lula (ou de qualquer homem), não poderia ter, por ela mesma, nenhum bem, muito menos cotas de investimento, porque ela não seria capaz disso. Só o Lula. Ela só seria capaz de comprar escondido: bolsas, sapatos, bijus.

Essa é a opinião também de uma porção de mulheres que defendem o feminismo ou direitos iguais das mulheres. Preciso generalizar, mesmo sabendo que várias pessoas jamais pensariam esse tipo de coisa se o caso não estivesse ligação com o Lula.

Ou seja: eu posso ter meu carro, meus investimentos, um consórcio, um financiamento, ser acionista na Bolsa, sem contar pra absolutamente ninguém, muito menos pra um marido, namorado ou qualquer nome que a relação leve, mas a dona Marisa? Impossível. O Lula, com certeza, está usando ela, coitada, era uma mulher, a mulher do Lula.

Estou usando esse exemplo só para dizer o quanto é ridículo – e nada empoderador – as pessoas usarem seus gostos políticos aproveitando-se de uma mulher e da imagem da mulher.

Se o Lula usou a falecida mulher, muita gente aqui não tá fazendo diferente. Está usando uma citação (que está nos autos, não sei porque tanto drama) para mostrar como a mulher ainda é vista na sociedade: como ser incapaz, incapaz de ter seus próprios recursos, de que precisa ser sustentada, que precisa pedir autorização do marido para fazer um negócio e que não passa de pau-mandado.

Se esse é o mundo de vocês, o meu, da minha irmã, da minha mãe, de várias primas, não é. No nosso mundo a gente dá conta do recado e não precisamos pedir autorização dos homens em nossas vidas para nada.

Para finalizar, eu não sei se vocês sabem, mas existem vários regimes de casamento, inclusive aquele que permite que as mulheres tenham seu próprio patrimônio e não precisem dividir com o marido. Faz um tempinho já.

 

* Paula Batista é jornalista, sócia-proprietária da Lide Multimidia, uma das principais agências de comunicação empresarial de Curitiba. É especialista em Ciência Política e Sociologia Política, graduanda em Direito.

 

 

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