Por José Ricardo Roriz Coelho

O único lugar onde o Mercosul funcionou bem até hoje é o ataque do Barcelona, com o brasileiro Neymar, o argentino Messi e o uruguaio Suárez, de alto entrosamento e imensa produção de gols. Por isso, é importante que a posse de um presidente da República de tendência liberal na Argentina, o empresário Maurício Macri, possa contribuir para um melhor entendimento e sinergia no bloco, que jamais conseguiu coesão plena nas questões do comércio exterior, incluindo as trocas recíprocas. A verdade é que, desde seu nascimento, em março de 1991, por meio da assinatura do Tratado de Assunção, o acordo não cumpriu o papel que dele se esperava, de contribuir para o fomento da economia e das exportações de seus signatários.

Mais do que não ajudar, algumas vezes o Mercosul tem até atrapalhado a inserção mais ampla do Brasil na economia global. Precisamos reconhecer que, apesar de alguns movimentos positivos sazonais das vendas externas, como ocorreu entre 2004 e 2010, e da presença permanente e forte de nossas commodities e produtos do agronegócio, ocupamos apenas o 25º lugar no ranking dos exportadores da Organização Mundial do Comércio (OMC). É muito pouco para um país que detém a sétima maior economia do Planeta, com imensos recursos naturais e produção industrial bem estruturada.

Por motivos já amplamente analisados, como os impostos e juros elevados, infraestrutura precária, burocracia e insegurança jurídica, produzir no Brasil é muito mais caro do que nas nações com as quais concorremos. É baixo o grau de competitividade do País. Por isso, os produtos industriais importados ganham cada vez mais terreno em nosso mercado interno, enquanto nossos manufaturados são preteridos no exterior. Deixamos, assim, de vender itens de alto valor agregado.

O resultado dessa paulatina perda de competitividade está expresso na balança comercial de 2014, com déficit em 2014 e com resultados pífios este ano, apesar da alta do dólar. Já estamos razoavelmente isolados no comércio global e temos muitas desvantagens competitivas. O Mercosul não pode ser mais uma delas. Seus mecanismos, como a liberdade alfandegária, as tarifas comuns de importação e exportação e as normas do livre comércio, jamais funcionaram integralmente, embora, às vezes, apareçam como obstáculo ao intercâmbio com outras economias. Nesse contexto, o Brasil não pode abrir mão de acordos bilaterais e multilaterais com nações da Europa, Ásia e os Estados Unidos, bem como de prospectar mercados em todo o mundo.

O Mercosul não pode ser um empecilho ao nosso comércio exterior. As exportações são importantes para o fortalecimento da economia nacional, para a retomada do crescimento, a superação da presente crise e o início de um fluxo sustentável de prosperidade. Não podemos nos resignar à perda crescente de mercados externos, gerando no exterior os empregos que poderiam ser criados no Brasil.

Com certeza, devemos procurar aperfeiçoar o Mercosul, para que se torne tão eficiente quanto o trio do Barcelona. Quem sabe, agora, com um chefe de Estado de visão liberal, a Argentina entenda e exercite em termos práticos uma política de comércio exterior que contribua para o seu crescimento e para o avanço do Mercosul como alavanca para todos os seus membros no comércio global. Porém, é necessário que o Brasil também faça sua parte.


*José Ricardo Roriz Coelho é presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) e do Sindicato da Indústria de Material Plástico do Estado de São Paulo (Sindiplast-SP). É vice-presidente da Fiesp e diretor de seu Departamento de Competitividade e Tecnologia.

 

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