Na lembrança dessa bela melodia de Ivan Lins,  recebi com grande pesar a decisão do Supremo Tribunal Federal que negou o pedido da Ordem dos Advogados do Brasil de revisão da Lei de Anistia.

Evocou o Ministro Presidente dessa Suprema Corte que o homem deve perdoar. Data vênia, Senhor Ministro, creio que a Justiça nasceu para coibir violações às Leis e ao Direito; não creio que ela  deva se preocupar com o perdão.

O que falar para mães, pais, irmãos,  amantes, que tiveram seus entes queridos roubados pela Ditadura? Preferem perdoar, esquecer,  ou  querem a Justiça? O perdão faz parte dos valores do homem;  mas a Justiça deve fazer parte dos deveres do Estado. Não se espera do Estado o perdão;  e sim,  a Justiça. Fui banhado com essa decisão pelo sentimento de impunidade, de injustiça; pois enquanto mães ainda choram sem  notícias de seus filhos; agressores comemoram porque foram contemplados pelo perdão do Estado!!!

Lamento profundamente que ainda se viva num Estado de pão e circo:  2010 é o ano da Copa do Mundo;  o ano de anúncio da Copa e Olimpíadas no Brasil;  ano de eleições,  e o ano da impunidade!!!
Parabenizo os Ministros Ayres Brito e Ricardo Lewandowski que ousaram desafiar o sistema e almejaram o mais amplo sentido da palavra Justiça.

Quero ter a consciência tranquila de que não me omiti perante a sociedade brasileira, minhas filhas e meus alunos, mas não posso esconder a tristeza de ver que o Brasil ainda está tão distante de alguns dos nossos vizinhos sul americanos,  que tiveram a coragem de expedir ordens de prisão para seus generais / carrascos.

Cito as palavras o Ministro Ayres Brito “a humanidade não é o homem para se dar as virtudes do perdão. Em certas circunstâncias, o perdão coletivo pode significar falta de memória e falta de vergonha. Convite masoquistico à reincidência”
Pois é Ivan Lins, somos todos iguais nesta noite,  outra vez…

*Ahyrton Lourenço Neto, é advogado e  Coordenador Jurídico do Grupo Aprovação. 
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