Eis a PRIMEIRA PARTE da entrevista com o senador Osmar Dias (PDT) realizada no início da tarde de hoje (29). Daqui a pouco o segundo capítulo.

‘Posso ser expulso por infidelidade partidária e perder o mandato’

‘O partido decidiu lançar candidato à presidência. Eu fui contra. O partido decidiu entrar no governo. Eu fui contra. O partido fecha questão contra a CPMF. Eu também sou contra’

‘Sem nenhum debate, sem nenhuma obrigação por parte do governo, o PDT sentou no colo do governo e disse amém’

A ENTREVISTA

BLOGO – O PDT fechou questão a favor da prorrogação da CPMF. O senhor irá seguir a orientação do partido?
OSMAR –
Ontem, na reunião da Executiva Nacional do PDT, o tema foi exatamente esse e eu recebi uma advertência. Ou obedeço a decisão do partido ou assumo as conseqüências.

BLOGO – E quais são essas conseqüências?
OSMAR –
Caso eu não siga a orientação, o caso será submetido ao Conselho de Ética do partido e eu posso ser expulso por infidelidade partidária e perder o mandato.

BLOGO – É a manus pesada do PDT?
OSMAR –
Que diabo de fidelidade é essa que obriga um senador da República a votar contra suas próprias convicções? Onde está escrito no programa do partido que eu não posso votar contra a CPMF? Esse caso, o da expulsão, me levou a consultar o jurista René Dotti e ele me disse que o partido pode até conseguir a minha expulsão, mas não tira o meu mandato. Agora, coloque-se no meu lugar. Eu trabalhei pelo partido, percorri nos últimos meses 18 mil quilômetros e realizei 25 encontros partidários para me encontrar nessa situação?

BLOGO – O mal-estar é evidente.
OSMAR –
Sem dúvida. Ontem, na reunião, o Carlos Lupi fez uma defesa tão veemente da CPMF que eu indaguei se ele falava como presidente nacional do PDT ou como ministro do Trabalho. O partido decidiu lançar candidato à presidência. Eu fui contra. O partido decidiu entrar no governo. Eu fui contra. O partido fecha questão contra a CPMF. Eu também sou contra. Sem nenhum debate, sem nenhuma obrigação por parte do governo, o PDT sentou no colo do governo e disse amém. Desde o começo propus alternativas que levassem, em conta, a contrapartida do governo. Porque desde que o governo conceda benefícios para a população é possível negociar. Não é barganha.

BLOGO – E que benefícios seriam esses?
OSMAR –
O senador Jefferson Peres (AM) vai levar ao ministro Guido Mantega (Fazenda) uma lista de reivindicações que inclui a redução de gastos correntes do governo (viagens, despesas com cartão corporativo, cargos comissionados, etc) que saltaram de 14% para 19% do PIB nos últimos cinco anos, ou seja 1% ao ano. É muito dinheiro. Em contrapartida, a carga tributária do país também aumentou, de 32% para 36% do PIB. Ou seja, o governo gasta mais e porque gasta mais também arrecada mais. Agora, o Mantega se comprometeu a apresentar o projeto de reforma tributária até dia 30 (amanhã), mas mudou de idéia e disse que vai ficar para o ano que vem. Por isso não vale só a palavra do governo. Tem que haver um documento assinado.

BLOGO – O governo está jogando pesado?
OSMAR –
Veja o caso do Hospital de Clínicas que passa por uma crise sem precedentes. Na reunião com o ministro José Gomes Temporão (Saúde), ontem (quarta-feira), ele me disse claramente: “Pois é, senador, o senhor deseja um suplemento de recursos para o HC. Só que para haver a  liberação é preciso haver a aprovação da CPMF”. Perguntei se ele estava condicionando meu voto e ele respondeu: “Eu assumo o compromisso de liberar o dinheiro e o senhor vota na CPMF”.