Rubem Braga, Um Cigano Fazendeiro do Ar (Editora Globo, 616 páginas, R$ 35,20) é uma biografia que por uma dessa peças pregadas pela vida fez do biógrafo personagem de igual relevância. Marco Antônio de Carvalho, o Urso, como o chamavam os amigos pelo jeitão taciturno e mau humorado do jornalista, levou dez anos em pesquisas, realizou 267 entrevistas, escreveu um catatau de 600 páginas e morreu, em junho passado, sem ver o livro publicado.
A história há de lhe pagar a pendura. A biografia do escritor, jornalista e correspondente de guerra, que fez da crônica uma arte literária, é de um fôlego notável. Aos 20 anos, Rubem Braga já desfrutava de projeção, publicando suas crônicas simultaneamente no Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre. Mas Braga foi muito mais. Repórter preso como espião na Revolução Constitucionalista de 1932, correspondente de guerra ao lado dos pracinhas da Força Expedicionária Brasileira na campanha da Itália e um misto de poeta, prosador e cortejador, em ordem aleatória.
De Carlos Drummond de Andrade recebeu o epíteto de “Fazendeiro do Ar”, porque cultivava em sua cobertura no Rio, um pomar fabuloso.  Na vida pessoal, foi amante de mulheres bonitas, elegantes e perfumadas. Tonia Carrero, entre elas. “Você tá achando que eu nunca mais vou dar pra você?” disse Tonia, certa vez, ao tentar acalmá-lo. Estranhamente, a atriz nunca admitiu o relacionamento.
Estas e outras idiossincrasias estão na biografia deliciosamente relatada por Carvalho e que mostram, mais do que o personagem, o estilo refinado do escritor que, como afirmou o crítico Alvaro Costa e Silva em artigo publicado na “Gazeta Mercantil”,  burilava a língua portuguesa como poucos.